terça-feira, 23 de dezembro de 2008
On God and music
domingo, 21 de dezembro de 2008
A long and winding road
Pois neste fim de ano meus mortos-vivos resolveram sair do armário todos at once. E assim, de uma hora pra outra, minha caixa de correio ficou abarrotada com três enormes convites de casamento de amigos com quem não falo há séculos. No celular, fantasmagóricas mensagens de voz: aniversário de quatro anos do bebê da amiga querida; nascimento e batizado do bebê da outra; ex-amor-da-vida argumentando "sinto sua falta", "não me julgue" e desejando boas festas. Presentes, os mais lindos e inesperados, que chegaram e permaneceram em cima da mesa, com cartões, fotos e outras fofuras, e minha absoluta incapacidade, neste ano, de retribuir com qualquer palavra ou gesto análogo.
Eu me preparo para a segunda-feira. Checo os e-mails, respondo alguns, e sem mais intenções reparo numa foto que encontrei na semana passada. De casaco preto e cabelo curto, rindo, na primeira vez em que vi neve. Eu morava em Nova York, e o inverno começava. A foto é linda, eu era mais gordinha e mais nova. Não foi há tanto tempo, mas foi há tempo suficiente. Respiro fundo e resolvo dormir. It's a long and winding road.
domingo, 2 de novembro de 2008
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Pequenas humanidades
Comprei o Le monde diplomatique Brasil hoje de manhã e me deu nos nervos. Não é que concorde ou discorde dos artigos; é outra coisa. É uma indisposição, ou talvez pura e simplesmente uma falta de de paciência para refletir sobre o papel do indivíduo e a condição de vítima nas ações humanitárias internacionais, sobre os cenários futuros e possíveis desdobramentos da crise americana, sobre o resultado da eleição nos Estados Unidos. E o problema vai além da geopolítica e da economia mundiais. De uma hora para a outra, passou a valer para as grandes reflexões sobre relacionamentos afetivos, sobre a realização de sonhos profissionais, sobre a solidariedade e o amor ilimitados entre os amigos.
Na minha última sessão de análise, cheguei à conclusão: tornei-me uma megera. Sem pudores para dizer não, sem minhas risadas altas e bestas - inclusive sem senso de humor -, sem minhas típicas falas sobre a esperança na humanidade. Agora fiquei econômica com as palavras, e não fico na sala depois de acabar a reunião, discutindo possíveis ações cooperativas - está encerrado, estas são as tarefas de cada um, ponto final. Até emagrecer eu emagreci.
Achei que seria o meu fim: depois de 3 anos de disco arranhado tocando frustrações amorosas, um ano e meio de sessões intensivas de psicanálise, e ouvido ultra-cansado dos meus amigos mais próximos, pensei, virei exatamente o avesso de mim mesma. Sou azeda, brava e pouco poética. Deixo de ser fraca para ser forte, segura e incisiva.
O que me salvou foi descer pra levar o Tufik para passear e no início do passeio dividir minha mixirica com o porteiro. Ficamos conversando, eu e ele - as modificações na quadra, a biblioteca popular, as vagas na garagem, um menino que foi sequestrado nas redondezas ontem à noite. Ufa. No fundo, no fundo, a compaixão pelo outro beneficia sobretudo a pessoa compassionada. Volto a me sentir uma pessoa depois do dia cão em que me tornei supra-humana. Salve a dúvida, o sonho, a incerteza, a coragem de amar e a coragem de sofrer; os passeios noturnos com o cachorro e sobretudo, neste momento, o senhor Egídio, porteiro das mais altas virtudes. Hoje sou fã das pequenas humanidades.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
And then
Pra mim nunca é transcendental. Nunca é como se, de uma hora para outra, estivesse abandonando meu velho eu para me tornar uma nova mulher, revigorada, mais forte, mais cética, mais sei-lá-o-quê. Não. Pra mim é como um reflexo retardado, mesmo, a surpresa que existe no reconhecimento de algo que já foi consumado. Ou talvez o certo fosse dizer que o momento da consumação seria mesmo este do reconhecimento, com o processo todo da mudança já passado.
Assim é pra mim, mas acho que muda de acordo com cada pessoa. É que tenho mesmo uma relação de retardo com o tempo; preciso terminar cada coisa para sentir como foi na época em que aconteceu. Acho que sou viciada em classificar para sentir. (Se o Wagner lesse isso, diria que tenho dificuldade em ser contemporânea de mim mesma).
Como certo, ando mais calada. As pessoas perguntam se é tristeza ou alguma coisa congênere. Não saberia responder ao certo. Simplesmente ando sem saber direito o que dizer. Mas continuo gostando de observar as coisas, de ouvir os outros conversando, de ficar olhando as pessoas no aeroporto enquanto espero o próximo vôo.
Pode ser o fenômeno de chegar perto dos 30.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Dias dos namorados, versão 2008
Ano passado, para comemorar, fui tomar cerveja com meus amigos solteiros ou namorantes-mal amados. O resultado inesperado foi me tornar uma semi-namorante mal-amada de um dos namorantes-mal amados convidados. Bad, bad. Resolvi mudar de programa.
Assim, em 2008, à beira do fim da dissertação, solteira após um quase-casamento discursivo, reservei-me o direito de tomar uma caixa de cervejas sozinha, pensando nos grandes amores da minha vida, sendo besta e nos intervalos escrevendo sobre genocídio.
Descubro que o maior amor da minha vida é o Thom Yorke, meu Tufik em forma de gente. Eu poderia ariar panelas com o pior bombril do mundo só para estar com ele. Lindo, especialmente quando decide ficar loirinho e cantar Creep. Lots of love. Número 1, 2 e 3 absoluto; quaisquer outros estão a quilômetros de distância.
Segundo lugar, plenamente, o sexy boy James Murphy, o one man army do LCD Soundsystem. Sempre achei meninos barrigudos o máximo. E ele deve ser engraçado, querido, cool e tomar cerveja gelada (ao contrário do Thom Yorke, que deve ser um chato). E tem a melhor música "4" de todos os tempos: someone great é linda como ele; sensível, como ele deve ser; romântica e pós-moderna, sem amor eterno, mas cheia de desejo infinito. O sotaque dele é a encarnação absoluta de todos os nova-iorquinos, imigrantes ou não, que já passaram por Nova York. E eu sinto muito falta de lá. Talvez seja só isso.
E por fim, quem diria, o maravilhoso Ian Thorpe, nadador esquisito de pés número 50. Fala bobagens, muitas, mas nada borboleta lindamente com sua roupa escamada testada e retestada muitas vezes pela Adidas. Eu me apaixono toda vez que vejo a saída dele, com a câmera embaixo da água. Nunca tive predileção pela Austrália, mas agora tenho vontade de visitar.
De volta à Terra, a dissertação vai que vai, nos últimos momentos. Decidi que vou resgatar a velha passagem aérea da TAM, tantas vezes cancelada ao longo do ano, e passar férias no Rio de Janeiro, em julho. Daqui a um mês. Em plena liberdade, com meus queridos e com minha cidade de estimação, meu chaveiro de alegrias - Andrezinho lindo, Márcia e Felipe, acampamento em quitinete para o show da Bjork, boteco barato, sujeira e escrotices variadas. In love with none.
Feliz dia dos namorados.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Para ler ouvindo Anthology 3
Isso que não tem nome ou futuro: a absoluta falta de planos, de desejos pulsantes de ser isso ou aquilo outro - uma renomada militante de direitos humanos, uma artista plástica fenomenal, uma nadadora invencível. De um dia para o outro, atravessar a rua para pegar o cachorro que foge, o silêncio às sete e meia da noite, a singela volta pra casa, comer fumar dormir e só. Pão com queijo, café com leite, uma cerveja meio quente, um edredon quentinho com uma das janelas abertas. Sem música. Sem ler o jornal do dia. Sem ligações 'estava com saudade e fiquei com vontade de te dizer boa noite'. Sem medo. Sem vontade de dormir um pouco mais. Sem hidratante com cheiro de baunilha e sem novos shampoos anti-frizz.
Sem mais nem menos, assim, tão besta, você não quer voltar o tempo pra fazer tudo certo. O certo, aliás nem faz sentido mais. Passou aquela raiva, a rejeição intragável, a vontade de quebrar a casa dele e queimar as cartas e fotos que sobraram. Acabou a espera, e sobretudo acabou a esperança. O amor, este parece que nunca existiu. Também sumiu a presença deste fiozinho tão besta que liga os anos que passaram, as tardes em Curitiba e os dias de neve em Nova Iorque com a manhã de hoje, que estava fria e bonita como costuma acontecer durante a seca de Brasília. A lembrança existe e é inerte.
Um dia você abre a porta de casa para trabalhar e depois volta, oito horas mais tarde. Sem estar cansada. E assim, nem mais nem menos, esquece de ligar o som. O cachorro surdo dormindo esquece de fazer a festinha usual, e você abaixa, pega no colo, faz um cafuné e ele te sorri o seu esplêndido sorriso de cão. A tpm do mês passou e você nem percebeu. Já é sexta-feira, e você nem notou. Os ipês na Esplanada floriram, você se dá conta singelamente.
Talvez seja um efeito de Persona, a Liv Ullmann tão linda e tão culpada que subitamente resolve parar de falar. Ou os vários cds do Arnaldo Antunes, as infindáveis sessões de análise, os quilos que eu perdi nos últimos meses. Como diria a Julita, a salvação é perceber que se está completamente fodido; aí começa tudo. De repente, o Nada, o terrível e insípido Nada, se converte no maravilhoso que é ser o absoluto do avesso, o escuro que consome tudo devagar sem deixar nem vestígios nem mágoas, a possibilidade ilimitada de ser, ou simplesmente a leveza de tornar-se qualquer coisa que não tem e não precisa de nome.
terça-feira, 15 de abril de 2008
fui à floresta
fui à floresta com grandes esperanças
chegando lá, só havia plantas e árvores
e quando havia pessoas, umas eram iguais às outras
Achei aquilo tão bonito que reli umas quinze vezes e memorizei para sempre. Ele me contou que era um excerto de uma estrofe de "A Tabacaria". Fui olhar os versos originais. Demorei um pouco para reconhecer, mas estavam lá, afinal, e na verdade são assim:
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Gosto do poema inteiro, mas nesta partezinha ainda hoje gosto muito mais da versão do meu pai do que da versão do Fernando Pessoa. De vez em quando, desde aquela época, lembro deles. Hoje de manhã, enquanto pendurava o casaco e o cachecol antes de entrar na plenária do Conselho de Direitos Humanos, retomei mentalmente o tema da sessão que iria assistir e tive um daqueles momentos em que se revisa a vida inteira em trinta segundos.
Ele foi precedido por aqueles versos. Pensei sobre a diferença entre trabalhar no Estado e na sociedade civil, e de repente nenhum dos dois me agradou. Desde este lugar onde eu agora estou, aqui, em Genebra, no prédio do Palais des Nations, ambos parecem exatamente duas faces da mesma coisa. Senti como se ambos fossem, na verdade, uma merda bem grande, e naquele momento eu soube que as agendas políticas estão sempre acima de qualquer direito, e que - como diz o personagem do Thomas Bernhard - estas pessoas não se relacionam entre si. mas só os títulos, e que as pessoas, grosseiramente falando, não contam na humanidade, importantes são apenas os títulos. Olhei em volta e achei a ONU, ela também, uma merda. Fiquei com ódio súbito do pavão que eles criam no jardim. E rematei, em pensamento: nada mais apropriado para a ONU do que pavões andando all around.
Diante do cabideiro, senti-me uma apátrida. Incapaz de pertencer integralmente à Academia. Incapaz de pertence ao Estado, à sociedade civil ou a uma organização internacional. Incapaz até mesmo de pendurar meu casaco no cabide.
Sinto vontade de ir embora da Suíça. Ou pelo menos de sair desse prédio horroroso e comprar um relógio, ver Blueberry Nights, tomar um copo de café e comer um pão com queijo, ver um vestido amarelo e um par de sapatos comprar meias-calças novas provar uma garrafa de vinho diferente andar de metrô ônibus trem avião caminhar a pé ao longo do lago fumando no frio até ficar bem cansada e depois uma xícara de chá, de água, de suco de cerveja, de vinho, de tudo tudo tudo até o limite dos tempos até o limite das forças para dentro do que é real inteiro privado e compreensível. Eu tenho o saco realmente cheio eu só tenho vontade de sair pra qualquer lugar ainda que seja um deserto a antártida um campo de grama sem fim mas que seja meu só meu, com começo e fim.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
o incômodo agudo eventualmente produz no eu alguma iniciativa de ação transformadora, portanto pode ser benéfico em determinadas circunstâncias
Algumas vezes cheguei a sentir que ele poderia explodir a minha vida pessoal em cinco minutos.
Muitas pessoas já ficaram irritadas com ele. Algumas se emputeceram realmente, outras ficaram tristes, outras fizeram comentários desaforados em protesto.
Teve bastante gente, eu imagino, que se sentiu overexposed. Deve ser péssimo sentir-se assim.
Eu já defenestrei alguns posts por culpa.
Talvez eu realmente fale mais do que deveria.
Estes dias, por exemplo, li uma chamada no jornal que dizia algo como "os tagarelas são a voz do diabo porque nos retiram das águas profundas da reflexão". Percebi que falavam comigo. Foi um horror.
Provavelmente o melhor lugar pra refletir seja mesmo o divã de análise.
Estou de férias dos dias de ter sono durante o tempo que esta minha específica crise de consciência durar.
domingo, 16 de março de 2008
do amor e suas trilhas sonoras
Eu saí acabada. Mas eu queria um pouquinho mais de desgraça e fiquei com um dos melhores amigos dele: dez anos mais velho, dez anos mais legal, nem tão sexy assim, mais inteligente, professor de literautra, sucesso na vida. Eles brigaram, e nós vivemos um ano e meio juntos. Pra mim, eu quero a sorte de um amor tranquilo; pra ele, ilhas mariana do norte, fazendo músicas nas quais eu era um abismo infinito onde ele se perdia sem fim ... Foi a única vez, acho, em que eu me senti verdareiramente a Ruby Tuesday, absoluta necessidade de ser livre, e você aí, pedido de casamento, e eu não posso viver sem você. Quando terminou foi ruim. Me senti culpada, como se tivesse estragado a vida de alguém. Bobagem, bobagem. Depois disso ele foi feliz, acho. Ficou com raiva da minha indiferença, perdemos contato. Estes dias tentei ligar, o telefone mudou. Um dia nos cruzaremos em algum café de Curitiba, eu com os meus filhos, ele com os dele, sei lá, ou tomaremos uma cerveja. Ou mais provavelmente nada: a gente pode até já ter se cruzado na rua e não ter se reconhecido.
E aí houve houve Nova York, 22 anos, o momento de encontrar o amor da vida, mas ele vivia no far, faraway, e eu era brasileira tendo que voltar pra terminar o curso de direito no Brasil. Então dois meses antes de voltar eu escutava a trilha de In the Mood for Love, o filme que a gente costumava assistir juntos pelo menos duas vezes por mês, e chorava. Chorava de madrugada no meu apartamento da esquina da 28 com a 3ª avenida, chorava no avião de volta pro Brasil - 12 horas em pranto interrupto, e a aeromoça, preocupada, trazendo lencinhos -, e chorei mais um ano, compulsivamente, mesmo estando com outro menino que me dava colinhos e colocava musiquinhas do White Stripes pra me acalmar. Chorei de novo quando ele veio pro Brasil me ver por duas semanas, e quando ele partiu de uma vez pro Uruguai e depois pra China e pra Tailândia eu fiquei duas semanas no quarto ouvindo a Cat Power cantar I found a reason - I do believe in all the things you see, and with you what comes is better than what came before, so you'd better come to me, and you'd better run run run run run to me.
Acho que dessa história eu nunca consegui me recuperar direito, e até hoje quando escuto o Covers Record da Cat Power eu sinto um aperto na garganta, saio de perto, digo pra mim mesma que nada disso aconteceu. Depois do Michael, pra esquecer a dor quase física da distância, teve a minha fase de absoluta obsessão pela libertação completa, estilo Peaches, fuck the pain away. Aí, dos 25 pra frente, how does it feel to be on your own, with no direction home, like a rolling stone, eu entrei no momento um pra lá, dois pra cá, me apaixonando por qualquer um, indiferentemente, por inércia, e depois enjoando de todos eles e dizendo pra mim mesma como foi que você ficou com esse cara... Do fotógrafo mais novo ao gótico podrão, do hippie magrinho ao economista promissor, do amigo maluco ao jornalista mais velho, eu tive tantos amores e não tive nenhum. Lo Boob Oscilator, Stereolab, quase uma compulsão por engolir o mundo, todos os sons e no fundo uma vozinha tão doce cantando em francês, quase uma esperança, essa coisa perfeita e horrorosa que é o noise.
Eu achei que não havia mais jeito, e no meio de 2007, sploft. Eu quero casar com você, vamos para qualquer lugar que não seja aqui, parecia a materialização perfeita, no meio do mundo ordinário, de i'll be your mirror, reflect what you are in case you don't know; please put down your hands, 'cause I see you. Tinha tudo pra dar certo e tudo pra dar errado, e lá vamos nós. Um salto no escuro, nenhuma defesa, eu sei que eu posso acreditar, eu sei que você pode acreditar também. E tudo parecia perfeito: os móveis da casa dele, o box do Velvet que ele tinha em cima da estante, a assinatura da Folha e a mania de ler o jornal antes de dormir. Eu fiz planos pra festa de aniversário de trinta anos que iríamos organizar pra ele no ano seguinte, pro nosso doutorado no exterior, pras nossas férias em Buenos Aires. E aí, de um dia pro outro, Flaming Lips no cd player - suddenly everything has changed. Eu nunca entendi direito por que ele foi embora, e ele nunca fez muita questão de me explicar certinho o que aconteceu. Eu sofri sofri sofri, por quê por quê por quê. Com o tempo a dor que parecia eterna-vou-morrer passou. Acho que provavelmente foi covardia dele, essa coisa de transformar a própria vida numa caixinha miserável e permamentente trágica, justificada com mil explicações racional-existencialistas, inclusive a de que love, love will tear us apart again. Sei lá. Eu só sei que Velvet nunca mais foi tão legal, e eu mesma comecei a achar I'll be your mirror uma música enjoativa, e concluí que, mesmo a Nico, quando cai nessa de amor incondicional, fica muito chatinha.
Comecei a fazer análise pra entender qual é o movimento viciado que eu ando repetindo em todas estas histórias. Ainda não descobri, embora minha analista me ofereça suas muitas opiniões perspicazes e inteligentes ao fim de cada sessão. Não ando mais ouvindo muitas músicas de amor. Ném músicas de mulher independente, estilo Portishead. Eu tenho escutado muito Morcheeba, especialmente o Chorango. Também Andrew Bird, Yo La Tengo e o último disco do Arnaldo Antunes. Não sei o que isso quer dizer.
quinta-feira, 6 de março de 2008
falando sobre dissertação
A mim importa a memória de que aconteceu de verdade, sobretudo. Enquanto há a lembrança ressignificada na atualidade dos tempos, há a consciência de que é possível haver o sofrimento estendido uma vez mais. Eu tenho horror ao esquecimento do genocídio, talvez mais ainda do que ao genocídio em si.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Como comprar um tê em Genebra
-Connecter ton ordinateur à quoi, madame? À l'internet?
- Vou bien savez, monsieur, à l'énergie, à l'electricité, au monde, parce que les choses suisses de connection sont très differentes de celas de les autres pays.
- Je ne vous comprends pas, madame. Vou pouvez répeter?
E assim por diante, três horas em 500 lojas de produtos eletrônicos no shopping. Até descobrir, finalmente, que "tomada" em francês é "prise" - ou quelque chose comme ça - , e que teria sido bom mais fácil se eu fosse um pouco menos arrogantezinha e tivesse trazido um dicionário português-francês para Genebra.
De qualquer forma, aqui tem muito chocolate e vinho barato, e toneladas de queijos brie que custam 3 reais. E todo mundo conhece direitos humanos e fica achando bom minhas chatíssimas discussões sobre genocídio em Ruanda. E amanhã eu vou no Palais de Nations.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
things change, but not quite - II
And those that will judge will say you're
aloof, but you know the truth is a seed.You know what you need is a
conflagration.
Hoje eu fiquei chateada no trabalho e pedi licença pra escrever a dissertação. À tarde caminhei pela UnB com a Jujú, e quando cheguei em casa coloquei i can hear the heart beating as one pra ouvir. Pensei que pra sempre vou sentir alguma coisa estranha quando tiver que pegar a caixinha pra ouvir o disco - foi você quem trouxe, mas estranhamente ele não me faz lembrar qualquer gesto seu, ou de nós dois, no passado ou no futuro que eu vivo imaginando. Ele só apareceu um dia em cima da minha mesa de trabalho, como algo que você esqueceu por aí, sem as bobagens habituais que talvez você nem saiba que são tão importantes pra mim - 'eu sei que você ama esse disco', uma dedicatória, papel de presente, fitinha vermelha de cetim que a gente tem que desatar com cuidado mas morrendo de vontade, sem conseguir piscar e perguntando o que tem lá dentro do embrulho. É, ele não veio pra ser um presente. Então, enquanto penso nisso, penso também que as coisas são perfeitamente assim mesmo, sem qualquer "se", a não ser aqueles que eu insisto ainda em criar dentro de mim. E que mesmo que você me chamasse baixinho e com cuidado hoje antes do almoço eu não iria querer que você me visse chorando. E que, mesmo querendo tanto, eu não consegui acreditar que 2008 poderia ser diferente com você quando acordei do seu lado no primeiro dia do ano.
Agora você está tão perto, mas em outro país. Eu não tenho fotos suas. Nem nossas - engraçado, nós nos prometemos tantas vezes ser donos do tempo. Agora, quando te olho com cuidado, disfarçando pra ninguém notar, não consigo mais reconhecer o seu rosto direito: eu, que me redesenhava em cada parte de você quando a gente estava longe. Agora o seu cheiro, eu percebi sem querer que parei de sentir desde que você voltou, e mesmo nos corredores as pessoas que usam o mesmo perfume que o seu não passam mais. Virou cheiro de lugar nenhum, de ausência; um desses cheiros que de tão antigos ficam esquecidos na memória, e que sem querer anos depois a gente lembra quando está assim distraída, esperando na fila do cinema ou correndo pra comprar um café numa cidade desconhecida. Um desses cheiros que não falam mais do show da björk que eu assisti sem você, emocionada no meio da multidão, com o coração apertado; nem do café com leite que a gente nunca tomou, naquela sexta em que você podia ter ligado, mas em que você previsivelmente não apareceu. Nem do frio que a gente podia ter consertado juntos, porque já está chegando perto da primavera. Vai parando a chuva, e enquanto não vêm o calor eu corro rapidinho e pego um cachecol velho pra me esquentar, esperando sem querer, mas nem tanto, pra saber se não é nessa noite em que a conflagration de que fala o andrew bird bate aqui na minha janela aberta e senta no sofá, no pé da minha cama, embaixo da mesa, do meu lado, bem perto.
domingo, 27 de janeiro de 2008
things change, but not quite
Hoje eu assisti down by law e lembrei de você, especialmente no começo, quando tocava aquela música do tom waits. Depois fiz café com leite bem quente, e deitei na sala com o tufik. Chove bastante agora, e eu fico pensando sobre o show do yo la tengo em maio, e imaginando como seria lindo se eles tocassem take care. Eu escovo os dentes, faço um chá de camomila e me preparo pra dormir; fecho as janelas e as cortinas da sala; arrumo o edredon e separo a paixão segundo gh pra ler na cama.
Você está tão longe, em outro país. Eu não tenho fotos suas. Nem nossas - estranho, nós nos prometemos tantas vezes ser donos do tempo. Então não consigo lembrar do seu rosto direito; eu, que redesenhava cada parte de você quando a gente estava longe. O seu cheiro, eu às vezes sinto nos corredores, quando passa alguém que usa o mesmo perfume que o seu. Virou o cheiro de lugar nenhum, dos corredores anônimos em edifícios públicos, de ausência. Da falta de chuva em dezembro do ano passado, do show da björk que eu assisti emocionada no meio da multidão, com o coração apertado. Do chá de camomila que hoje eu prefiro ao de hortelã, da coberta listrada azul, rosa e lilás que eu uso pra me esquentar de noite, quando está frio lá fora e sem querer eu esqueço a janela aberta.