quarta-feira, 28 de novembro de 2007

coisas de clarice - 2

Apaixonada por "o livro dos prazeres", virei uma pessoa monotemática. eu passei a adorar a clarice lispector:

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

domingo, 25 de novembro de 2007

coisas de clarice

- Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

só os beatles são eternos

A vida é mesmo assim: de um dia ser velvet e no outro bjork.
De um dia achar que amor é please put down your hands 'cause I see you, e no outro pensar que é every nerve that hurts you heal deep inside of me.
De mudar da natação pra dança contemporânea.
Da fixação por bolsas grandes para a compulsão por bolsinhas minúsculas.
Da assinatura da Folha de S. Paulo para o livro da Clarice Lispector.
De vestidos para calça jeans.
De prateado para um dourado kitsch genial.
Passar da preferência de legumes para a obstinação por frutas.
De carne para massa, de mais amigos homens para mais amigas mulheres, de estampa de oncinha para a de bolotas, da noite para o dia. E sobretudo de café para chá.
Só os Beatles são eternos. Mas eu acho que agora prefiro o Rubber Soul ao White Album.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

dias de ter sono

Dias de ter sono, para abrir as janelas e os olhos, e depois dormir de novo, e no meio de tudo, tudo. E ter sono de novo, e dias de ter sono. O ordinário mais pequeno e mais besta, o Tufik que absurdamente dá umas pastadinhas no jardim, o café com leite morno sem açúcar de manhã, as roupas do dia anterior em cima da cadeira, o vizinho que sai de carro mais cedo do que eu; os mais chatos dos cachorros peludos que saem pra passear, as músicas mais imbecis que tocam no rádio, as notícias inúteis de todos os dias na folha; eu gosto de tudo isso, do que é feio e chato, do que não tem graça, do que não é virtuose. Do erro de ser só aquilo que se pode ser, da preguiça e da vontade de dormir, da decisão desajeitada, do tropeço, da roupa um pouco amassada, do cabelo que não se ajeita, do óculos fora de moda, da perna que é mais grossa do que deveria; da pressa, da angústia que é vida. Eu gosto da compaixão e da esperança, da fagulha que nasce quando tudo parecia morto, do suspiro cansado que faz reviver, do som do vento atrapalhando o silêncio perfeito, da risada inesperada que substitui a condenação; da virtude humana que emana dos nossos pecados indefectíveis, e do perdão que, como diria alguém, é a melhor forma de resistência às crueldades de toda sorte.

domingo, 11 de novembro de 2007

eu tenho uma nova música preferida

I love your eyes, my dear
Their splendid sparkling fire

When suddenly you raise them so
To cast a swift embracing glance

Like a lightening flash in the sky
But there's a charm that is greater still

When my love's eyes are lowered
When all is fired by passion's kiss

And through the downcast lashes
I see the dull flame of desire

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

i'll be your mirror

Porque é quarta à noite, e quarta é meu dia preferido da semana. Porque sem esperar nem um pouco recebi uma mensagem tão bonita do Matheus, que está lá longe, em Genebra, e foi como um presente cuidadosamente embrulhado. Porque eu estava cansada, e a Júlia veio aqui preparar a aula de amanhã, e a gente riu junto, como a gente sempre ri, e deixamos tudo pronto, e no final, 1 da manhã, depois de quatro horas de trabalho, eu nem lembrava mais que estava tão cansada. Porque a Pá ligou, está indo pro Chile amanhã encontrar o Gonzalo, e eu percebi mais uma vez, depois de conhecê-la há quase três anos, que ela é uma amiga tão especial que eu realmente não sei quem seria se não a tivesse encontrado por um desses acasos inexplicáveis, no final de 2004. Porque também o Ferrari e o China ligaram de um churrasco e eu senti saudades deles, tive vontade de estar lá, e percebi que sinto falta de nossas conversas e/ou cigarros no curso de formação para gestores. Porque acabei de baixar um álbum do Anthony and the Johnsons, e é tão lindo, e quem me ensinou a gostar deles foram André, Roger e Dudu, e quando começa a tocar You are my sister eu lembro de que estávamos juntos há menos de duas semanas no Rio, e percebo que ganhei mais uma memória boa e mais uma banda preferida. Porque eu entro no blog da Ritinha, leio sobre sua nova vida em Lyon, e quero visitá-la no ano que vem, e começo a pensar que seria bom fazer meu doutorado na França, andar com mochila nas costas e livros embaixo do braço no metrô, simplesmente porque penso nela fazendo o mesmo, e acho que, à nossa maneira, temos sonhos parecidos.

Tenho dormido pouco, batido meu carro, lido menos do que gostaria, tido menos tempo pra mim do que seria desejável, sentido dores no ombro, comido mais misto quente do que salada e sopa. Então passo horas perguntando que é que eu virei no meio de tanto pão com queijo e presunto. Mas chega uma quarta ordinária, com tantas coisas tão especiais e bobas, e não há mais nenhuma pergunta boba destas pra ser respondida, só vontade de tomar banho quentinho e acordar amanhã, para viver mais um dia perto dos meus amigos tão queridos e do meu cachorro de bolinhas.

domingo, 4 de novembro de 2007

bater o carro no sábado à noite

Sploft, às 11 e meia da noite. Ui ui ui, a culpa é minha: bati meu carrinho pela primeira vez. Trazer o moço que teve o carro batido aqui pra casa, pra ligarmos pro seguro. Oferecer um copo de vodka pra ele, você sabe, já que rolou esta merda, vamos beber um copo e fumar um cigarro enquanto a gente resolve. Acho que ele pensa, com toda a razão do mundo, que teve seu carro abalroado pelo carro de uma doida. Ele vai embora, eu ligo pro Aldo, especialista no assunto, e pra Paloma, minha amiga querida especialmente maravilhosa nestes momentos. Tomar um banho quente e dormir, mas eu não consigo. Fico preocupada com tudo, com medo de tudo, ainda achando esquisito esse negócio de de repente tudo sair da lógica programada.
Hoje não parou de chover. Dá vontade de dormir. Tenho inveja do Tufik, que só sabe fazer isso da vida (às vezes, quando ele dorme, chego perto e dou uma cutucada, porque o sono dele é tão profundo que chego a pensar que ele morreu). Os dias de ter sono estão voltando.