domingo, 30 de dezembro de 2007

para o ano que virá

para o ano que virá, como se eu pudesse pegá-lo pela mão. e nós caminhamos juntos. para o ano que virá, como se fosse meu filho. e eu digo a ele que será bom, e forte, e que vai errar algumas vezes, que elas serão muitas, e difíceis. que haverá dias de rir muito, e dias de querer dormir. haverá os dias de ter sono, os dias de não querer acordar, os dias de acordar sem querer, no meio da noite, por medo ou por vontade de viver mais um pouco. ao 2008, que já nasceu, eu sorrio explicando que novas pessoas virão, mas que eu não sei ainda quem elas são. se boas ou ruins, ele pergunta, e eu respondo que as pessoas são ruins e boas ao mesmo tempo, o tempo todo, mas ele não entende. 2008 quer ser apenas a verdade, mas a verdade é o que 2008 será todos os dias, na contemporaneidade de si mesmo. e na contemporaneidade de si mesmo não há futuro, nem há passado, porque ele só existe naquilo que é sendo. então 2008 sorri de volta, entendendo sem entender; 2008 que já existe, que ainda nem nasceu; esse 2008 que sou eu e mais os meus sonhos; esse 2008 que é agora o meu filho mais querido.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

irreversível

olhares irreversíveis: eu nunca mais poderei ser a mesma. chegando na aula, uma calça jeans velha - será que eu engordei de ontem pra hoje? -, sete textos em cima da pasta, uma bolsa grande, tanta preguiça, que olheira horrível você tem, Mariana (eu pra mim mesma, bestamente), o professor falando bobagens pouco razoáveis, e eu levanto distraidamente a mão hedley bull para dizer que sim, é um passo para o mundo construído e você. eu nem olho, mas você do meu lado, e então eu noto sem saber que noto que você tem covinhas, mas sobretudo eu noto que você mexe no meu cabelo sem sair do lugar, sem mexer no meu cabelo; "eu sei que", mas ouvindo o silêncio que você enuncia pra sala inteira, pra ninguém. e eu, pra dizer bem a verdade, abandono rapidinho o bull e o martin wight, o mundo linguisticamente construído, as normas de instrução e a universalidade dos direitos humanos, eventualmente até a importância do reconhecimento historiográfico do genocídio africano, e saio da sala, para o intervalo, como se andasse para uma outra cantina, numa outra universidade, em tempos imemoriais que não existem e que jamais existirão (pouco importa). e você veja, agora. que passaram dois anos, e você surgiu de novo no natal do ano passado, e neste ano, há um mês atrás. mais rápido que o obturador da minha câmera preferida, eu capto seu olho no meu, um segundo ou dois ou menos, três vezes em dois anos e pluft já é do tamanho da minha vida inteira.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

da rita

O blog mais lindo de todos, certamente; a amiga mais linda de todas, certamente.
Então eu estava relendo e lá vai, o texto pertinente da ritinha, porque é tão pertinente com a minha vida que dá vontade ir pra lyon só pra comer o bolo de ameixas dela:


Historinhas - Cap. 3
Ou "Trilha sonora para romances de três meses"Fallen for you, did you ever see me watching from periphery? I was playing another game, hoped you catch on all the same, mas não. Mais um pulo de cabeça no escuro, salto em altura sem rede de proteção. Cada um com seu jogo, você de esconde, eu de mostra. Eu casa aberta, logo ali ao seu lado, sorrindo flores e palavras de galanteria. E tudo para dar certo, parecia o platônico que se tornou real, alguém que saiu do filme com o rock’n’roll, os discos, a banda pronta e as mãos finas. Fallen from view, did you ever touch me floating through your poutpourri? I thought I felt your fingers once, after waiting all these months e aí eu pensava se alguma vez a gente chegou a se tocar de verdade, se encontrar no meio das músicas, da linguagem que era só nossa, das risadas que você dava das coisas que eu falava assim sem pensar, daquela risada que você dá vezenquando com os olhos fechados, do seu jeito bonito de segurar o cigarro e dançar bem devagarinho, me abraçando, mexendo no meu cabelo. E um dia eu até achei que ia funcionar, o lugar escuro, a bebida que eu roubei da sua mão, a música alta, lembrava tanto uma que eu ouvi três meses inteiros, com o coração doendo durante a guitarra, esperando when the circle finally formed you called me up the only onde making a sound... But I was wrong so wrong, that was just another song you wrote for another girl, and I hoped the day could be when you’d write a song for me but it never came. E aí claro que não aconteceu, sempre tem alguma coisa no meio do caminho, quando as coisas não chegam a ser. Quando eu sei que vou ser um bilhete esquecido na bolsa, entregue com os olhos pedindo por favor. Sempre tem um Ela que chegou e não saiu ou que vai chegar durante uma viagem ou que... sempre tem uma janela no apartamento lá em cima para receber as lágrimas, uma ladeira que se sobe à noite com os olhos turvos, umas lembranças buscando o sinal da tragédia. E, que pena, não gravei cds, não mandei entregar encomendas na portaria do prédio, não escrevi cartas com caneta colorida, não entreguei fotos wish you were here, não liguei de Curitiba, não fiz o bolo de ameixas da Amélie, nem te falei que eu pareço tanto com ela, os vários jogos que faço querendo dizer que te amo, não entreguei o filme que eu tinha comprado só porque podia parecer tanto com a gente, eu também faço listas, mudei o jeito de me vestir e perdoei tantas coisas. I thank you all the same, but I’ll go now, so you won’t know how much I’ve fallen for you, boy who’s trying to be a man, boy you don’t know if you can, I tought I knew you well enough but your walls are still too tough. De novo, and it goes all over again, eu vou embora, não consegui chegar lá naquele fundo onde você guarda seus sentimentos. Aquele lugar onde dá saudade, aquele ponto em que a vontade de ligar supera o fim de semana em que você nunca existe, estava pensando em você e o telefone tocou. Você não conseguiu achar bonito meu jeito de prender o cabelo e de falar as coisas com tantas vírgulas e voltas. But I’ll go now, so you won’t know how much I thought about you all the time, walking round the Guggenheim, like a rhyme in my mind, there you are, in my car, but we don’t drive very far to the beach, out of reach…Vou embora, para você não saber que, na maioria das vezes eu quase não lembro de você quando desço a Augusta e acabo vendo um filme no domingo à tarde, ou experimento gim durante uma matéria, quando discuto Fante e depois caminho pela Paulista com os fones no ouvido escutando Marvin Gaye ou quando faz um friozinho bom e eu ponho um casaco a mais ...Next to me my fantasy.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

coisas de clarice - 2

Apaixonada por "o livro dos prazeres", virei uma pessoa monotemática. eu passei a adorar a clarice lispector:

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

domingo, 25 de novembro de 2007

coisas de clarice

- Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

só os beatles são eternos

A vida é mesmo assim: de um dia ser velvet e no outro bjork.
De um dia achar que amor é please put down your hands 'cause I see you, e no outro pensar que é every nerve that hurts you heal deep inside of me.
De mudar da natação pra dança contemporânea.
Da fixação por bolsas grandes para a compulsão por bolsinhas minúsculas.
Da assinatura da Folha de S. Paulo para o livro da Clarice Lispector.
De vestidos para calça jeans.
De prateado para um dourado kitsch genial.
Passar da preferência de legumes para a obstinação por frutas.
De carne para massa, de mais amigos homens para mais amigas mulheres, de estampa de oncinha para a de bolotas, da noite para o dia. E sobretudo de café para chá.
Só os Beatles são eternos. Mas eu acho que agora prefiro o Rubber Soul ao White Album.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

dias de ter sono

Dias de ter sono, para abrir as janelas e os olhos, e depois dormir de novo, e no meio de tudo, tudo. E ter sono de novo, e dias de ter sono. O ordinário mais pequeno e mais besta, o Tufik que absurdamente dá umas pastadinhas no jardim, o café com leite morno sem açúcar de manhã, as roupas do dia anterior em cima da cadeira, o vizinho que sai de carro mais cedo do que eu; os mais chatos dos cachorros peludos que saem pra passear, as músicas mais imbecis que tocam no rádio, as notícias inúteis de todos os dias na folha; eu gosto de tudo isso, do que é feio e chato, do que não tem graça, do que não é virtuose. Do erro de ser só aquilo que se pode ser, da preguiça e da vontade de dormir, da decisão desajeitada, do tropeço, da roupa um pouco amassada, do cabelo que não se ajeita, do óculos fora de moda, da perna que é mais grossa do que deveria; da pressa, da angústia que é vida. Eu gosto da compaixão e da esperança, da fagulha que nasce quando tudo parecia morto, do suspiro cansado que faz reviver, do som do vento atrapalhando o silêncio perfeito, da risada inesperada que substitui a condenação; da virtude humana que emana dos nossos pecados indefectíveis, e do perdão que, como diria alguém, é a melhor forma de resistência às crueldades de toda sorte.

domingo, 11 de novembro de 2007

eu tenho uma nova música preferida

I love your eyes, my dear
Their splendid sparkling fire

When suddenly you raise them so
To cast a swift embracing glance

Like a lightening flash in the sky
But there's a charm that is greater still

When my love's eyes are lowered
When all is fired by passion's kiss

And through the downcast lashes
I see the dull flame of desire

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

i'll be your mirror

Porque é quarta à noite, e quarta é meu dia preferido da semana. Porque sem esperar nem um pouco recebi uma mensagem tão bonita do Matheus, que está lá longe, em Genebra, e foi como um presente cuidadosamente embrulhado. Porque eu estava cansada, e a Júlia veio aqui preparar a aula de amanhã, e a gente riu junto, como a gente sempre ri, e deixamos tudo pronto, e no final, 1 da manhã, depois de quatro horas de trabalho, eu nem lembrava mais que estava tão cansada. Porque a Pá ligou, está indo pro Chile amanhã encontrar o Gonzalo, e eu percebi mais uma vez, depois de conhecê-la há quase três anos, que ela é uma amiga tão especial que eu realmente não sei quem seria se não a tivesse encontrado por um desses acasos inexplicáveis, no final de 2004. Porque também o Ferrari e o China ligaram de um churrasco e eu senti saudades deles, tive vontade de estar lá, e percebi que sinto falta de nossas conversas e/ou cigarros no curso de formação para gestores. Porque acabei de baixar um álbum do Anthony and the Johnsons, e é tão lindo, e quem me ensinou a gostar deles foram André, Roger e Dudu, e quando começa a tocar You are my sister eu lembro de que estávamos juntos há menos de duas semanas no Rio, e percebo que ganhei mais uma memória boa e mais uma banda preferida. Porque eu entro no blog da Ritinha, leio sobre sua nova vida em Lyon, e quero visitá-la no ano que vem, e começo a pensar que seria bom fazer meu doutorado na França, andar com mochila nas costas e livros embaixo do braço no metrô, simplesmente porque penso nela fazendo o mesmo, e acho que, à nossa maneira, temos sonhos parecidos.

Tenho dormido pouco, batido meu carro, lido menos do que gostaria, tido menos tempo pra mim do que seria desejável, sentido dores no ombro, comido mais misto quente do que salada e sopa. Então passo horas perguntando que é que eu virei no meio de tanto pão com queijo e presunto. Mas chega uma quarta ordinária, com tantas coisas tão especiais e bobas, e não há mais nenhuma pergunta boba destas pra ser respondida, só vontade de tomar banho quentinho e acordar amanhã, para viver mais um dia perto dos meus amigos tão queridos e do meu cachorro de bolinhas.

domingo, 4 de novembro de 2007

bater o carro no sábado à noite

Sploft, às 11 e meia da noite. Ui ui ui, a culpa é minha: bati meu carrinho pela primeira vez. Trazer o moço que teve o carro batido aqui pra casa, pra ligarmos pro seguro. Oferecer um copo de vodka pra ele, você sabe, já que rolou esta merda, vamos beber um copo e fumar um cigarro enquanto a gente resolve. Acho que ele pensa, com toda a razão do mundo, que teve seu carro abalroado pelo carro de uma doida. Ele vai embora, eu ligo pro Aldo, especialista no assunto, e pra Paloma, minha amiga querida especialmente maravilhosa nestes momentos. Tomar um banho quente e dormir, mas eu não consigo. Fico preocupada com tudo, com medo de tudo, ainda achando esquisito esse negócio de de repente tudo sair da lógica programada.
Hoje não parou de chover. Dá vontade de dormir. Tenho inveja do Tufik, que só sabe fazer isso da vida (às vezes, quando ele dorme, chego perto e dou uma cutucada, porque o sono dele é tão profundo que chego a pensar que ele morreu). Os dias de ter sono estão voltando.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

preguiças

Eu gosto de estudar à noite, quando não existe mais ninguém acordado. Passar a madrugada, até de manhã, escrevendo. Eu ligo o computador, uma luz bem fraca, deixo o Tufik dormir embaixo da escrivaninha, e tomo uma xícara de café com leite quentinha. As manhãs foram feitas pra dormir.
Eu gosto mais de tropicália do que de bossa-nova, e eu prefiro o Caetano ao Chico. Apesar disso, gosto mais dos cachorros do que dos gatos, muito embora tenha vontade de ter os dois em casa.
Eu amo os Beatles; tenho amor, mas sinto mágoa dos Rolling Stones. Eu adoro a Yoko.
Eu queria ter cabelo comprido, mas meu cabelo é curto e não cresce nunca.
Gosto mais de vestido do que de calças jeans. Mais de café do que de chá. Mais de salgado do que de doce. Prefiro vinho, depois cerveja. Não me dou bem com os destilados, de modo geral, muito embora tenha uma queda recente por whisky.
Gosto de amigos em casa, mas depois de um tempo me dá uma preguiça. Eu gosto de viajar pra longe, muito longe, mas depois de um tempo me dá preguiça. Na verdade eu tenho preguiça quando dura mais do que devia.
Eu ando rápido e dificilmente vejo alguma pessoa na rua. Acho bom quando tem muitos carros passando. Acho bom quando a cidade está em obras e é barulhenta (eu nem noto, e é gostoso). Acho bom quando tudo está cheio e as pessoas ficam falando muito, a não ser no supermercado. Eu gosto de cidades grandes e bagunçadas. Eu gosto de ficar perto do mar.
O silêncio é bom quando chega de noite. A melhor hora é quando o dia vai virando noite, e não dá pra saber quando começa um e quando termina o outro. A lua é mais bonita do que o sol. As estrelas são as mais lindas de todas.
Eu gosto de nadar. Eu gosto do barulho da água e da minha respiração. Eu gosto de ouvir a respiração dos outros. Eu gosto de ouvir os outros contando histórias. Eu gosto de saber qual a cor preferida dos meus amigos. Eu gosto da intimidade, mas acho difícil encontrar pessoas para reparti-la. Eu tenho vergonha dos outros ouvirem a minha respiração, porque eu acho que é barulhenta. Eu também tenho vergonha do meu pé, feio e cascudo.
Eu só tenho bolsas grandes. Minhas bolsas são pesadas, com jornal e livros que eu carrego pra cima e pra baixo. Eu gosto de agendas grandes, também, pra escrever tudo que eu tenho que fazer, todos os dias, pra não esquecer de nada, de nenhum compromisso, de nenhum telefone, de nenhum aniversário, de nenhuma impressão que eu tenha que despachar com meu chefe, de nenhuma memória, de nada que possa ter acontecido no dia de hoje, e se eu pudesse eu teria uma agenda que contaria o que vai acontecer daqui até o final do ano, daqui a três meses, só porque eu tenho preguiça desta coisa de escrever tudo na agenda, todo dia, tanto quanto eu tenho preguiça deste acaso demorado. Na verdade eu tenho preguiça quando dura mais do que devia.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Lou Reed, beibe

Quando eu chego em casa, meio bêbada, meio feliz feliz, meio triste, meio meio meio, mas nunca 100% algo, eu ouço Velvet e deito, a hundred percent, cantarolando "oh! sweet noooottthiiinnggg...", e sempre tenho uns sonhos bons. É bom, e geralmente eu acordo rindo de a vida ser tão besta. Ho ho ho.

domingo, 26 de agosto de 2007

aldo quer ser o dono do tempo

Você coloca um monte de água na mão de conchinha e vê ela escorrendo devagar, dizia este amigo querido, que naquele momento estava tentando fazer a mão dele virar uma espécie de caixa hermética, quase um contâiner para materiais radioativos, do qual nenhuma gota de água, nenhuma memória, nenhum pedaço do que fosse vivido pudesse escapar. Mas não importa o quanto você feche os dedos ou curve a palma da mão, porque nunca, nunca, nunca a água fica ali. Então a gente coloca a mão de novo na bacia pra ver se dá certo, e pluft: mais uma vez. Aí a gente ri de ser tão estúpido.

Meu outro amigo, João, me liga informando várias coisas. Ele diz que a gente se conhece há dez anos, e eu respondo pra ele que isso é tão bom, e é como se eu pudesse ver a gente fotografando com nossas yashicas pequenas. Ele também explica duas certezas: o amor é aqui na nossa frente; o amor é a quilômetros de distância.

"Porque meu analista falou que as paixões são bobagens, e a vida tem que ser mais feita de pragmatismos", me diz este outro menino ateu. Constatando que a vida é pragmática, ele então decide casar. Eu acho estranho, um pouco triste, um pouco engraçado, e entendo, do meu lado de pessoa que não acredita em ateísmos de qualquer ordem, que a gente vive precisamente o que consegue viver, e que isto é a coisa mais bonita do mundo.

Eu chego em casa neste domingo à noite de um fim de semana enorme, que já dura uns três meses, e o Tufik está me esperando, impassível. Eu compro uma passagem pra Curitiba, pra visitar meus pais e ver o mar. Entro na internet pra trabalhar num texto, tomo duas xícaras de café com leite. Penso em amizade e amor, e sobre como os dois às vezes se encontram, em como às vezes se separam, em como um pode destruir o outro, endurecê-lo, matá-lo, ou como podem ser converter na mesma coisa, ficar diferentes, ficar mais um ou mais outro. Ou mesmo se são coisas diferentes. E por que.

Você coloca um monte de água na mão de conchinha e vê ela escorrendo devagar. Mas nunca, nada nada nada, pode jamais apagar essa memória besta, que é a memória de segurar, de verdade, a água - ou o tempo, que é um nome diferente pra mesma coisa, acho.

sábado, 11 de agosto de 2007

vai, pamonha

A quem interessar possa: do Equador a Brasilia, trago uma garrafitcha de vodka de baunilha e a disposicao absoluta de comprar uma mesa de madeira na feirinha da Torre. Fim de semana que vem, em casa, havera festinha para os queridos.
Tragam panelas, tragam bacias. Uma mesa nova e uma garrafa de vodka. Quem se sentir convidado, apareca. Eu e Tufik-Nestor estaremos esperando.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

De Sarajevo e Srebrenica a sexta-feira, de sexta a sabado de noite, de sabado a Lima, de Lima ao Equador - voltam os telefones laranjas, as pessoas andando nas ruas e falando muito alto, meu cachorro branco de bolinhas pretas, minhas plantas e meu tapete de coracao. E entao, apesar do atraso de tres horas do meu voo, eu nao me irrito, definitivamente: compro uma barra de chocolate bem grande, com amendoim, no free shopping; acendo um marlboro; tomo um cafe com leite e um copo de agua com gas no internet cafe; e acho bom este programa absurdo que esta pensando num canal qualquer, embora eu nao entenda nada de espanhol.
Tambem porque da minha casa fui ao aeroporto de Brasilia com a Julia, e tocou Beatles, e life's very short and there´s no time/to flussing and fighting, my friend, e pluft. We can work it out, eles dizem. O Nestor/Tufik esta dormindo com a cara pra fora da janela, a Julia esta falando alguma besteira engracada pra eu parar de pensar que nao vamos chegar a tempo, e depois a gente ri um pouco da musica, e canta, e acha meio bizarro que esta musica toque agora. O Nestor ja foi entregue, a gente vai comer antes de embarcar, e na frente do prato de macarrao comenta mais uma vez a frase do Phillipe Mourin - perdoar e resistir a crueldade do mundo.
Daqui cinco minutos termina meu tempo no internet cafe. Eu acendo mais um cigarro, tomo mais um copo de agua e me preparo pra almocar, enquanto a tv continua com a novela boba, a garconete serve as outras pessoas que estao sentadas, e tudo tudo tudo ja e mais compreensivel e mais terno.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

ui ui ui - la vie, elle n'est pas facile

E então, notícias sobre a Bósnia. Onde estão?
Nem eu sei dizer. Elas são muitas e muito poucas. Porque é estranho passar duas semanas fora, mil coisas, Sarajevo tão linda e espiritualizada, Sarajevo com seus buracos de bala e carros antigos, análises múltiplas de quaisquer aspectos sobre genocídio, e depois voltar pra casa, pro trabalho todo dia da repartição, pro telefone laranja, pros amigos que ficaram por aqui, pros amores antigos e atuais, pro meu chuveiro quentinho e pros pacotes que ainda não desfiz desde a mudança.
Então é como se eu não estivesse nem triste, nem feliz, nem qualquer coisa. É como se nada. É como um nada bem grande, enorme, de quinze patas; é como o "sem-face" do desenho da Chihiro, que ninguém nunca soube dizer o que é, se um Deus ou um monstro, porque ele engole tudo com dentões feios e depois estende a mão carinhosamente.
Aí eu corro corro corro, na esteira da academia e na vida; corro corro corro pra tomar banho na hora certa, e ir pro trabalho, e depois corro pra dar ração pro Nestor e levar ele pra fazer xixi. E quando eu não tenho nada pra fazer aqui em casa eu invento uma comida bem complicada pra cozinhar, porque aí eu fico concentrada em saber se o molho vai coalhar ou não, se manjericão combina com alecrim, se vai engordar muito ou se qualquer coisa, tanto que seja ordinária, certa, pequena e sobretudo compreensível.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

love's a razor blade

Provavelmente porque cada dia dói tanto, e é tão duramente triste que eu sinto como se minhas unhas estivessem em estilhaços toda noite;
porque sempre é como se o sol se partisse em mil pedaços na sua força de meio-dia à seis da tarde;
porque as horas cotidianas caem devagar, em conta- gotas;
também porque o amor e a ternura são estes fatos tão absolutos e inegáveis (pra mim) da condição humana;
e, finalmente, porque nada, nada é tão leve pra mim como eu, eventualmente, gostaria de imaginar que seria pro meu filho (e porque talvez, por esta simples razão, desde muito pequena, eu tenha absoluto repúdio à idéia de ser mãe);

: eu simplesmente me curvo à idéia de que love's a razor blade.

E durmo.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

la dolce vita

Um novo visto.Uma nova passagem para a Bosnia,agora no domingo. Um recepcionista lindo do hotel que me leva pra jantar, me faz rir e me da carona numa lambreta. A praça del Duomo.
La vita è bella a Milano.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

deportada de Sarajevo e esperando

Primeiro dia de viagem: deportada de Sarajevo, devidamente escoltada pela policia ate Milao no primeiro voo da Alitalia, aos gritos, quase enfiada num aviao de volta para o Brasil (falar italiano salva qualquer um: a policia de Milao carimbou meu passaporte na Italia depois de entender o que tinha acontecido), ha 25 horas sem dormir, chorando e chutando as coisas na policia do aeroporto. Perderam minha bagagem no caminho; tive que comprar calcinha, soutien, um desodorante e um vestido barato pra vestir. Ha 2 horas, finalmente, consegui encontrar um hotel baratinho e uma lojinha que vende falafel pra bater o rango merecidissmo.
Liguei pra Universidade de Sarajevo e para a organizacao que montou o evento. Eles queriam morrer, claro. Eu tambem. De acordo com as pessoas la da Universidade, o que rolou foi uma desorganizacao no timing do envio dos meus documentos para o Ministerio de Relacoes Exteriores da Bosnia. Dentro de 2 dias, se tudo der certo, volto para Sarajevo (com visto, claro, mas tenho medo, logico).
Antes ate mesmo saber que seria deportada, quando o aviao pequenininho sobrevoava Sarajevo, confesso que tive uma sensacao horrivel. Porque o voo que sai de Milao voa baixo; voce atravessa a Eslovenia e a paisagem e a mais linda que pode existir - um monte de rochas e umas casas fofas no meio delas. Mas em cima de Sarajevo a paisagem e desoladora: uma grande roca, com casas quadradinhas a la comunismo, uma coisa meio bucolica, assim, e isso e legal. Mas todas as casas - e la de cima voce ve - estao encravadas com milhares de buracos de balas. Nao tinha entendido quando vi la de cima, mas quando o aviao foi chegando mais perto entendi.
E estranho. E um lugar minusculo, com cara de interior do Parana. E todas as casas assim.
After all, estou feliz em Milao e amanha vou dar um volta pra conhecer a cidade, passear nos museus e nas igrejas, e tal. Gosto daqui, gosto das cortinas verdes do hotel, mas comecei a descobrir que e uma alegria grande morar no Brasil.

sábado, 30 de junho de 2007

o que não se diz

Pego minhas coisas pra ir pra casa, mas antes de sair você fala pela terceira vez o quanto você quer tomar um vinho com aquela menina que é tão bonita, e me pergunta se deve. Eu te olho com o rosto de, um rosto que eu não vejo, mas que deve ser aquele de quem não se importa nem um pouquinho, aquele que eu sei fazer muito bem, porque treinei bastante pra vestir em situações assim. "Se você quiser", eu digo, e quando fecho a porta ainda dá tempo de ouvir você falando que liga mais tarde.
Eu durmo e quando acordo ainda é de noite, e eu não sei se você ligou. Meu telefone desligado. Na verdade eu não queria mesmo saber sobre a sua ligação, ou ponderar, ou ter que pensar por que é que você continua me dizendo o quanto é bom ler um livro do Caio Fernando Abreu falando sobre amor, ou comprar uma casa com quintal e não ter que trabalhar tanto, ou que as pessoas são um saco mas veja que você, Mariana, eu gosto tanto quando você usa seu vestido verde, e eu preciso te dizer o quanto eu me importo com o que você se importa, se cachorros são melhores do que gatos, ou se é preciso ter um carro tão bom assim. Qualquer coisa, no entanto que seja tão pequena que contá-la é como te dizer, Mariana, este é um segredo, e ele é muito maior do que ligar, porque ligar é mudar tudo, e quem quer a mudança?
(Eu, sim. Você, não.)
Então você me pergunta se deve convidar esta garota pra tomar um vinho (você nunca vai tomar o vinho com ela, claro), e olha pra mim, porque na verdade eu sei, como você sabe, que ontem você passou no mercado e comprou o vinho que eu gosto. E eu respondo "se você quiser", que é pra te dizer que entendi. E voltamos pra casa, você e eu, com este estúpido segredo que ninguém entende, a não ser nós dois, e eu estou cansada dele, então desligo o telefone, que é pra não sentir saudade de você quando estiver andando de manhã em Sarajevo e vendo uma daquelas coisas que me lembram do que a gente nunca viveu.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

uma semana para sarajevo

Viseira de cavalo: Bósnia, Nestor e eu. Nada mais cabe. Só o óbvio. Pegar o avião, alugar uma bicicleta quando chegar, comer qualquer bobagem. Andar de tênis e mochila. Fotografar um pouquinho, conhecer quatro suecos lindos. Dormir muito muito muito. Eu tenho medo de vôos internacionais, mas no fundo eu gosto tanto. Como não ter casa e nem ninguém. Eu adoro e amo partir. Acho que é um vício, mesmo.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

o que há dentro dos olhos do nestor

Chegar em casa, tomar um banho e comer qualquer coisa. Depois sentar no computador escrever fumar tomar coca light ouvir uma música baixa no meio dos livros até ter que parar. Vida ordinária. Mas o mundo inteiro dentro dos olhos do meu cachorro, dormir e sonhar.

domingo, 17 de junho de 2007

pequeno como

Você toca o meu cabelo, e eu tenho vergonha, porque não tenho vergonha de nada, mas ainda não sei reagir a você tocando de leve no meu cabelo. E nada acontece, a não ser você rindo um pouco antes e um pouco depois, mas eu não rio. Eu quero encostar no seu cabelo também, mas não faço nada, fico quieta, olho pra baixo e acendo um cigarro bem devagar. Faço um olhar blasé qualquer, saio de perto de você como se estivesse precisando de mais um copo de bebida, atravesso toda a festa pra pegar a bebida que eu não quero tomar, volto e você ainda está no mesmo lugar, me olhando. Então eu sento, falo uma bobagem, que é pra você ir embora, procurar outra coisa, enquanto eu, sentada no banco, digo pra mim mesma que um dia, pode ser, se as coisas forem diferentes, a gente se encontra num outro lugar, numa outra hora e. No dia em que eu estiver correndo pra fazer qualquer coisa, saindo do trabalho às seis com um monte daqueles papéis que eu sempre carrego e não leio, com minha bolsa roxa grande, cantando uma musiquinha besta dos Beatles que eu não consigo tirar da cabeça há anos, e que você vai reconhecer. Vou gostar do seu comentário bonitinho, e sem querer vou mexer no seu cabelo, e sem perceber vou ter mexido no seu cabelo, você vai entender, eu vou rir. No dia em que não tiver uma bebida, um cigarro, uma bobagem pra dizer pra você ir; no dia em que você puder mexer no meu cabelo, no dia em que eu puder mexer no seu, e no dia em que as gotinhas de tempo pinguem devagar, que é pra mais ninguém ver porque é pra ser um segredo, como a musiquinha boba dos beatles que você conhece e eu também.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

tsunami

"The Great Wave at Kanagawa" é a pintura que um tal Katsushika Hokusai fez em algum momento entre 1760 e 1849 e que é justamente o que o título diz: um tsunami terrível que arrasta o monte Fuji e dois barcos cheios de pessoas vestidas com roupas marrons.
Eu gosto muito. Fofura terrível; a onda tem rendinhas brancas que parecem mãos levando todo mundo embora.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

all is full of love

Às criaturas plásticas, às fibras ópticas multicoloridas que enfeitam nossa sala, aos móbilis de coração e mastigadores de cães, e às onipresentes luvas-de-pegar-cabo-quente-de-panela:
all is full of love: it's all around you (cf. Bjork, muito parecida, a meu ver, com um charmosíssimo pinguim de geladeira).

respeito aos seres inanimados

O carro estragou de vez hoje de manhã, e isso me fez pensar sobre o pouco discutido tema dos sentimentos dos seres inanimados. Porque eu ia levá-lo - o carro - para uma revisão ontem mesmo, mas decidi adiar porque tinha que pegar alguém no aeroporto à noite.
Fui no aeroporto e um dia depois é o fim de mais uma historinha de amor que podia ter se transformado em domingos de ter sono de manhã e depois vamos ler o jornal juntinhos para esquecer as notícias tristes, com filme e inverno. Fui no aeroporto à noite e no dia seguinte, saindo pro trabalho, o carro enguiça e quase que não chega no ministério.
Eu fico com a certeza que meu carro me avisava, quando ainda funcionava: cuide de mim, largue esse moço do aeroporto. Não me ouviu, pifei. Assim você aprende a cuidar de quem te tem afeto e a deixar os ingratos pegando taxi no frio.
No fim das contas aprendo a amar e respeitar os conselhos de saboneteiras, despertadores, secadores de cabelos e persianas horizontais. Seria bom ter aprendido a lição antes, assim poupava os 1.100 reais da revisão do carro e um brand-new coração em caquinhos.

sábado, 2 de junho de 2007

sobre sábados de sol e telefones

O telefone laranja tocando. Nestor não ouve e não late; eu atendo enquanto ele dorme. Aí tem notícias que poderiam ser boas num sábado à tarde com sol e vontade de regar as plantas e organizar os livros e ver o desenho da Chihiro. Toca o telefone e eu espero que o sábado de sol seja tão grande com essas coisas bestas de sábados depois do almoço um banho gostoso vamos levar o cachorro pra passear e isso é bom comer uma salada com macarrão ler o jornal na sala dormir esquecer a hora e acordar lá pelas seis trabalhar um pouquinho, quem sabe, conversar dormir. Mas tirar o telefone do gancho, ouvir e falar enquanto Nestor dorme, e minha vontade então é de deitar ficar na cama, só que eu levanto da cadeira, faço compras sozinha, encontro um dvd barato nas Americanas esbarro numa amiga querida que procura berço pro neném como um brigadeiro num café qualquer uma coca light passo em outro mercado compro água mineral, chego em casa e arrumo tudo. Nestor não quer comer, então dou comida pra ele na mão (ele está muito magro). Já são dez, começa a esfriar, vou tomar banho e escrever no computador alguma coisa até mais tarde.
Faz frio. Tem um vinho e taças novas brancas na cozinha. Faz frio porque é inverno. Sábados de sol, uma música qualquer tocando enquanto o Nestor dorme de novo, e o telefone está desligado, porque telefones alaranjados devem ficar desligados nos sábados para evitar corações partidos.

p.s.: Berlin, do Lou Reed

sexta-feira, 1 de junho de 2007

nova casa e um cachorro de bolinhas

Me mudei pra uma casa maior. As coisas ainda estão empacotadas, mas desempacotei o cachorro Nestor, um linguiça estranhamente branco de bolinhas pretas que ronca muito quando dorme e não ouve nada.
A casa é linda, tem uma escrivaninha grande o mesmo tapete de coração minhas plantas e mudas de temperos os dois cds novos da Marisa Monte e o quarto com o pé direito alto. Tem dois banheiros com portas-toalha em forma de um pato amarelo de plástico. Em cima da mesa tem uma girafa de madeira que a Júlia trouxe da África do Sul.
O tapete branco com bolinhas vermelhas chega amanhã da lavanderia pra combinar com o Nestor.
E chego em junho aqui. Maio vai embora e as coisas já começam a ter forma. Todo dia, por exemplo, acordo bem cedinho pra levar o cachorro passear, e à noite faço a mesma coisa. Passamos, os dois, na frente das várias igrejas (umas três) que existem aqui perto. Eu fico ouvindo as pessoas cantarem muito e muito alto, e acho bonito. O Nestor não consegue ouvir as pessoas, mas acho que ele entende, porque abana muito o rabo quando estamos na frente delas.

sábado, 19 de maio de 2007

voltar do samba

Na vida ordinária do outono/2007 em Brasília existem: 1. dias de calor e noites de frio; 2. pessoas modernas que eu não conheço nas festas; 3. vontades de comprar uma bicicleta; 4. livros que devem ser lidos em cima de todos os móveis do apartamento.
Tudo pela metade, portanto, mesmo que a metade ainda não tenha chegado. Maio, o mês dos anúncios de que por essa altura algo deveria ter acontecido, ou pelo menos começado a acontecer.
E pluft: você olha, e nada. Um deserto de tristezas, e zero de coisas tão emocionantes quanto uma descoberta.
Aqui em casa tem uma geladeira vazia que me lembra das compras de amanhã, um monte de roupas pra levar na lavanderia, um chuveiro quentinho, uns 35 pares de sapato e um silêncio que não é novidade, porque todo dia ele está aí, já que eu moro num bairro afastado.
****
(dá pra ouvir qualquer coisa do Tom Waits em maio)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

então

Vocês já viram o clipe de nightswimming, do rem?
É a poesia de nadar à noite.
A musica é linda e o clipe também é lindo, com coisinhas em super-oito.
Então: pra ouvir e sentir que a gente não precisa de mais nada - a mesma sensação de nadar 800 metros numa piscina grande: nightswimming.

Natação, meu amor eterno

Faço uma declaração a este esporte evoluído e lindo, a natação. Porque hoje eu fui pro boxe, depois de umas boas duas semanas sem nadar, e olhei a piscina. E vi pessoas lindas, gordinhas e magrinhas, todas felizes e dando braçadas, e senti o fedor-maravilhas do cloro horrendo, e era sol do meio-dia, e vi meus queridos professores apitando pros alunos nadarem mais rápido, todo mundo desesperado nadando crawl, e imediatamente pensei: "fodam-se as luvinhas cor-de-rosa".
E fui nadar.
E ninguém fica se olhando como na academia.
E tem mulheres com pança. E homens branquelos. E ninguém se importa, porque nadar é muito mais legal do que a barriga ou a marquinha de biquini do vizinho.
Abandonei o boxe, olhei pro meu ombro esquerdo, todo estragado, e pedi peloamordedeus pra ele funcionar. Entrei na piscina, nadei 40 minutos e lembrei porque é que eu imagino que quando eu morrer a luz pra ir pro céu vai vir de uma piscina que não termina nunca.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

primeira aula de boxe chinês

Hoje fiz minha primeira aula de boxe chinês. Tenho que comprar luvas, caneleira e protetor de dentes (ui ui ui). Há luvas cor-de-rosa a venda. Não vejo a hora de comprar o meu par.

domingo, 6 de maio de 2007

ah! a música

Queria colocar uma música pra cada post, mas sempre esqueço.
Já que lembrei, aí vai a trilha sonora pro textinho de baixo:
autobahn, do kraftwerk (só alegria) + ciranda cirandinha

pré-segunda

No domingo à noite, vencidas as controvérsias e terminada a faxina necessária para que eu receba Fabro, o rei das havaianas verdes, que chega amanhã, as conclusões sobre a semana que passou são as seguintes:
1. fazer aniversário em direção aos trinta é menos indolor do que parece, e tirando aqui e pondo ali, ficar mais velha é ficar mais nostálgica e com saudades dos meus amigos espalhados pelo mundo. No que é bom, o tempo passou, passa, e eles continuam queridos e amigos, e eu fico feliz que eles existam, me visitem ou escrevam, e persistam tomando cerveja gelada comigo - mesmo que em planos ideais- nos botecos mais ordinários e baratos que já foram inventados;
2. não interessa que agora eu tenha vinte e sete: eu continuo ouvindo estas malditas músicas melancólicas;
3. mesmo sem conhecer o Rio, a cidade me dá ciúme: por que todo mundo vai pra lá e não quer mais sair? Meus amigos todos estão picando a mula pra lá. Hoje foi-se Rodrigo girafo pegar uma praia, amanhã chega Fabro bronzeado passar uns dias por aqui e na quarta volta. Eu queria que Brasília tivesse praia pra todo mundo que eu gosto ficar perto de mim;
4. no balanço típico de aniversário, percebi que este último ano foi muito feliz. Se mexer um pouquinho - tá, um pouquinho pode -, estraga. No balanço aniversário-2007, minha vontade é de esmagar o mundo e beijar os transeuntes desconhecidos. Só faltou mamãe e papai (que esnobemente passam férias na Tunísia, podres de chiques), Xexéu e Campos, o cachorro evoluído.
Queridos, eu vos considero pra caralho, mesmo sendo domingo.

ostrogodos

não sabia que o último post seria tão polêmico... qual o gênero dos ostrogodos?

sábado, 28 de abril de 2007

Voilà, monsieurs

Quando eu era adolescente, sempre achava que o cúmulo da encruação feminina era a frase 'odeio todos os homens'. Era a confissão suficiente de que a mulher era mal-amada.
Anos depois, aos 27, nego minha teoria apenas em parte. Sim sim sim, grande parte das meninas que diz isso é carente pra diabo e projeta em todos os homens do universo sua frustração de estar sozinha -desesperadamente sozinha, eu diria (l'enfers sont les autres). Parafraseando a Cice, elas ficam chatas porque estão sozinhas, e aí ficam infelizes e mais chatas e aí ninguém aguenta, então elas ficam mais sozinhas e mais chatas, até que elas pintam o cabelo de cor infame e ficam reclamando do mundo inteiro e tendo surtos muito muito chatos que me dão vontade de apertar o botão de desliga.
Do outro lado da moeda, o tempo aumentou minha amostragem masculina e comecei, eu também, a proferir a frase famosa. Os homens são umas gracinhas, nadam borboleta lindamente e são muito divertidos, normalmente muito mais divertidos que as mulheres. Mas que são menos evoluídos, isso não dá pra negar. Nas minhas estatísticas, conheço uma mulher covarde para cada 10 homens que têm medo de enfrentar o mundo sem a mamãe.
Portanto: louvores aos meus amigos gays, que se vestem bem e ouvem boa música. E planejando uma viagem à Suécia, cheia de homens ruivos que dividem o seguro-maternidade com suas mulheres, trocam fralda de bebê e ainda por cima compram os cds de peter, bjorn and john.

terça-feira, 24 de abril de 2007

ops

esqueci a trilha sonora do pf à la thom yorke:

harrowdown hill (claro!)

(e eu estou com saudade do joão e de sua barba comprida, claro)

thom yorke e seu pequeno tecladinho

Pois bem: João gosta do Thom Yorke e seu tecladinho monocórdico. Eu também.
Fora de todos os purismos, eu tenho uma simpatia singela pelas músicas e pelas fotos que não têm nada de mais além de umas coisas aqui e ali. As pessoas em geral acham sem graça e besta, mas eu acho tão lindo um vazio ordinário de vida comum nestas coisas sagradas que sempre têm que ter o status de virtuosas. Tudo que é muito extraordinário sucks. Bom mesmo é arroz, feijão, salada de alface com tomate e um bife por cima de tudo.

sábado, 21 de abril de 2007

radiohead radiohead

e dizem por aí que o radiohead vem pro brasil. quer dizer, sempre dizem por aí, né?
acho que eu tenho um treco.

pra ouvir: fake plastic trees + no surprises

e vamos pra festinha

broken flowers

finalmente consegui assistir "flores partidas", do jim jarmusch. eu sou do tipo que ama muito ghost dog e dead man, então estava quase maluca porque não tinha conseguido ver o último dele. aí, na quinta à noite, decidi que não dava mais, e era uma da manhã quando pus o filme.
começou, terminou e eu fiquei em estado de choque pelas duas horas. não conseguia deligar: os créditos passavam e eu pensando: "caralho, que é que tá acontecendo? como assim?"
filme triste da porra, inacreditável, o jim jarmusch é de uma sensibilidade monótona e ao mesmo tempo escrachada. acho que por isso fiquei achando tudo tão estranho: pra mim nada pode ser mais horripilante do que a preguiça de querer gostar das coisas bestas ou de ter medo de tentar o que aparentemente esteja fora do controle. é tão triste que chega ao ponto de ser ridículo.
acordar, trabalhar, dormir. parece que a cara da gente fica mole e amarela.
eu tenho medo de ficar parecida, mas também tenho medo de virar uma criatura que aaaammmaaa muuuiiiito e que não para de falar. o equilíbrio delicado de ter paciência e ao mesmo tempo ser angustiada. acho que eu tenho que voltar a ver os filmes do kieslowski.

p.s. enquanto isso, a folha noticia que o wong kar-wai está rodando um filme novo, em inglês e com a norah jones como protagonista (hã?). tudo pra ser esdrúxulo, mas como é dele e a fotografia é do chrystopher doyle, pronta pra passar duas horas feliz e mais uma semana besta-quadrada de tanta coisa linda. eu fico desesperadamente apaixonada por ele existir.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Sunday night

É domingo à noite, e talvez seja mesmo por isso. Ou pelo fim de semana de ficar na cama o dia inteiro, sem querer sair. Mas o que acontece é que hoje à noite resolvi me perguntar a questão óbvia do que inferno é isso de sempre querer as pessoas que vão embora, esta história de filme repetido sei lá quantas vezes de conhecer, gostar e imediatamente receber a notícia inevitável (com as variações caso a caso, lógico) do "estou indo embora de mudança, portanto a gente". Às vezes - e na verdade muitas vezes -, o sujeito pula a segunda parte, como se eu tivesse: 1. que supor a existência dela; 2. que imaginar a resposta e dar uma solução para o problema; 3. que me conformar com uma decisão que já foi tomada a priori, sem que minha opinião fosse consultada.
Como eu sou do tipo pode-deixar-que-eu-dou-conta-de-tudo, minha reação é normalmente a 2, mas dado o tanto de vezes que isto tem acontecido, também já encarei algumas vezes as outras duas. Claro, você vai embora e eu não vou te pedir nada, mas como pra mim é importante, então tá, deixa que do lado de cá eu dou jeito de me desdobrar em duzentos pedaços pra você não ter que se desdobrar em nenhum (os homens covardões+as mulheres resignadas).
Então acontece que da última vez eu passei da conta. E eu já não consigo nem dizer pra mim que nada acontece, nem decidir pelo medroso, nem aceitar as condições que você joga pra cima de mim. Eu simplesmente finjo que não é comigo, que na verdade eu não estou gostando, mesmo; que eu sei exatamente que daqui a duas semanas acabou, sem vestígios ruins, só com a memória das coisas boas - quem sabe a gente não fica super amigo? -; que eu sou fodaça o suficiente pra let it go, que eu estou completamente preparada.
Enquanto isso as semanas vão sendo cheias de coisas fofinhas dá vontade de o final de semana durar 10 dias. Fuck. Esperando as postagens que vão vir depois de 03 de maio.

terça-feira, 10 de abril de 2007

existwm estes dias

então existem estes dias em que o tempo pára quando você sabe que, e então não interessa se é futebol ou um cinema. mas é bom ter segredos que fazem o tempo parar.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

in this tiny apartment complex

Acabou a páscoa, então voltam os dias de ter sono, e acordar, e trabalhar, e voltar pra casa, e ler as coisas sobre Ruanda. E aí não entender, e querer que de repente o quebra-cabeça de todas as coisas que eu li e que eu leio façam sentido, e. Como se as coisas tivessem um sentido completo, de qualquer forma.
De repente é uma e quinze e amanhã acordar e trabalhar e dias de sono. Como se fosse uma vontade e uma raiva de ter sono, todas estas coisas juntas. Porque dá preguiça quando os dias de ter sono acabam e em vez de querer dormir o que acontece é o que precisa ser feito: louça pra lavar, coisas pra fazer, todas as contas que devem ser pagas depois do salário cair. In this tiny apartment complex.

dias de ter sono

os dias de ter sono deviam ter voltado.