sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

assim é 2011

Não existe como fazer uma foto da neve em que a gente possa saber como é a neve de verdade. Nem explicar como tudo pára de repente quando bate um vento de 75km/h e o cabelo começa a voar no olho e na bochecha. Pregado no papel de parede de uma hospedaria barata chilena eu vi um prego sustentando um cabide verde de plástico, e pendurei meu casaco molhado ali depois de chegar de viagem.
Só quem estuda alemão depois de velho sabe como é abrir um livro infantil e gastar uma hora e meia com um dicionário do lado tentando entender o primeiro parágrafo. Minha parte curitibana jamais esquecerá o indescritível ódio dos incontáveis espirros de barro na barra da calça saindo dos petit pavets soltos em dias de chuva.
Marquinhas de mofo na cortina do banheiro, os pedaços quebrados nas bordas das minhas xícaras e potes de sopa, isqueiros encontrados por todas as bolsas e partes da casa. Meus livros com as datas e os lugares onde foram comprados, essa Hannah Arendt com a Rita em Paris, essa Mafalda sozinha em Buenos Aires, esses que eu peguei da biblioteca do meu pai.
Entre palavras numa língua que eu não entendo, roupas com rasgos que só eu conheço, olhares que eu cruzei com desconhecidos de outro país, 2011 começa assim como um segredo indefectível. Uma coisa que, mesmo querendo, a gente só consegue contar pra gente mesmo.