domingo, 30 de dezembro de 2007

para o ano que virá

para o ano que virá, como se eu pudesse pegá-lo pela mão. e nós caminhamos juntos. para o ano que virá, como se fosse meu filho. e eu digo a ele que será bom, e forte, e que vai errar algumas vezes, que elas serão muitas, e difíceis. que haverá dias de rir muito, e dias de querer dormir. haverá os dias de ter sono, os dias de não querer acordar, os dias de acordar sem querer, no meio da noite, por medo ou por vontade de viver mais um pouco. ao 2008, que já nasceu, eu sorrio explicando que novas pessoas virão, mas que eu não sei ainda quem elas são. se boas ou ruins, ele pergunta, e eu respondo que as pessoas são ruins e boas ao mesmo tempo, o tempo todo, mas ele não entende. 2008 quer ser apenas a verdade, mas a verdade é o que 2008 será todos os dias, na contemporaneidade de si mesmo. e na contemporaneidade de si mesmo não há futuro, nem há passado, porque ele só existe naquilo que é sendo. então 2008 sorri de volta, entendendo sem entender; 2008 que já existe, que ainda nem nasceu; esse 2008 que sou eu e mais os meus sonhos; esse 2008 que é agora o meu filho mais querido.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

irreversível

olhares irreversíveis: eu nunca mais poderei ser a mesma. chegando na aula, uma calça jeans velha - será que eu engordei de ontem pra hoje? -, sete textos em cima da pasta, uma bolsa grande, tanta preguiça, que olheira horrível você tem, Mariana (eu pra mim mesma, bestamente), o professor falando bobagens pouco razoáveis, e eu levanto distraidamente a mão hedley bull para dizer que sim, é um passo para o mundo construído e você. eu nem olho, mas você do meu lado, e então eu noto sem saber que noto que você tem covinhas, mas sobretudo eu noto que você mexe no meu cabelo sem sair do lugar, sem mexer no meu cabelo; "eu sei que", mas ouvindo o silêncio que você enuncia pra sala inteira, pra ninguém. e eu, pra dizer bem a verdade, abandono rapidinho o bull e o martin wight, o mundo linguisticamente construído, as normas de instrução e a universalidade dos direitos humanos, eventualmente até a importância do reconhecimento historiográfico do genocídio africano, e saio da sala, para o intervalo, como se andasse para uma outra cantina, numa outra universidade, em tempos imemoriais que não existem e que jamais existirão (pouco importa). e você veja, agora. que passaram dois anos, e você surgiu de novo no natal do ano passado, e neste ano, há um mês atrás. mais rápido que o obturador da minha câmera preferida, eu capto seu olho no meu, um segundo ou dois ou menos, três vezes em dois anos e pluft já é do tamanho da minha vida inteira.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

da rita

O blog mais lindo de todos, certamente; a amiga mais linda de todas, certamente.
Então eu estava relendo e lá vai, o texto pertinente da ritinha, porque é tão pertinente com a minha vida que dá vontade ir pra lyon só pra comer o bolo de ameixas dela:


Historinhas - Cap. 3
Ou "Trilha sonora para romances de três meses"Fallen for you, did you ever see me watching from periphery? I was playing another game, hoped you catch on all the same, mas não. Mais um pulo de cabeça no escuro, salto em altura sem rede de proteção. Cada um com seu jogo, você de esconde, eu de mostra. Eu casa aberta, logo ali ao seu lado, sorrindo flores e palavras de galanteria. E tudo para dar certo, parecia o platônico que se tornou real, alguém que saiu do filme com o rock’n’roll, os discos, a banda pronta e as mãos finas. Fallen from view, did you ever touch me floating through your poutpourri? I thought I felt your fingers once, after waiting all these months e aí eu pensava se alguma vez a gente chegou a se tocar de verdade, se encontrar no meio das músicas, da linguagem que era só nossa, das risadas que você dava das coisas que eu falava assim sem pensar, daquela risada que você dá vezenquando com os olhos fechados, do seu jeito bonito de segurar o cigarro e dançar bem devagarinho, me abraçando, mexendo no meu cabelo. E um dia eu até achei que ia funcionar, o lugar escuro, a bebida que eu roubei da sua mão, a música alta, lembrava tanto uma que eu ouvi três meses inteiros, com o coração doendo durante a guitarra, esperando when the circle finally formed you called me up the only onde making a sound... But I was wrong so wrong, that was just another song you wrote for another girl, and I hoped the day could be when you’d write a song for me but it never came. E aí claro que não aconteceu, sempre tem alguma coisa no meio do caminho, quando as coisas não chegam a ser. Quando eu sei que vou ser um bilhete esquecido na bolsa, entregue com os olhos pedindo por favor. Sempre tem um Ela que chegou e não saiu ou que vai chegar durante uma viagem ou que... sempre tem uma janela no apartamento lá em cima para receber as lágrimas, uma ladeira que se sobe à noite com os olhos turvos, umas lembranças buscando o sinal da tragédia. E, que pena, não gravei cds, não mandei entregar encomendas na portaria do prédio, não escrevi cartas com caneta colorida, não entreguei fotos wish you were here, não liguei de Curitiba, não fiz o bolo de ameixas da Amélie, nem te falei que eu pareço tanto com ela, os vários jogos que faço querendo dizer que te amo, não entreguei o filme que eu tinha comprado só porque podia parecer tanto com a gente, eu também faço listas, mudei o jeito de me vestir e perdoei tantas coisas. I thank you all the same, but I’ll go now, so you won’t know how much I’ve fallen for you, boy who’s trying to be a man, boy you don’t know if you can, I tought I knew you well enough but your walls are still too tough. De novo, and it goes all over again, eu vou embora, não consegui chegar lá naquele fundo onde você guarda seus sentimentos. Aquele lugar onde dá saudade, aquele ponto em que a vontade de ligar supera o fim de semana em que você nunca existe, estava pensando em você e o telefone tocou. Você não conseguiu achar bonito meu jeito de prender o cabelo e de falar as coisas com tantas vírgulas e voltas. But I’ll go now, so you won’t know how much I thought about you all the time, walking round the Guggenheim, like a rhyme in my mind, there you are, in my car, but we don’t drive very far to the beach, out of reach…Vou embora, para você não saber que, na maioria das vezes eu quase não lembro de você quando desço a Augusta e acabo vendo um filme no domingo à tarde, ou experimento gim durante uma matéria, quando discuto Fante e depois caminho pela Paulista com os fones no ouvido escutando Marvin Gaye ou quando faz um friozinho bom e eu ponho um casaco a mais ...Next to me my fantasy.