terça-feira, 12 de janeiro de 2010

30 - uma carta rancorosa a 2009

Pensei em você por um átimo quando fui assistir Avatar 3D, quando apagou a luz e todo mundo vestiu os óculos ridículos. Queria ter ouvido você comentar algo sobre as lagriminhas que eu deixei escorrer, uma saindo da lente azul, outra da lente vermelha, no final da luta do bem contra o mal.
Que eu amei, lógico. Eu esperava que você dissesse que no fundo eu sou bem literal e chorona, ou que no fundo eu sou bem melancólica e pouco direta. Tanto fazia.
Mas não havia Avatar 3D antes, e você não estava lá quando foi finalmente lançado no cinema. Foi só quando entrei em casa depois da sessão, quando quis ouvir pessoas falando mais, que notei que você estava lá, sim, porque 2010 começou sem palavras, num silêncio suspenso típico de você, como uma porta um segundo antes de abrir, como o dentro da geladeira, como o momento breathtaking imediatamente depois de se entrar na água gelada. Como algo que existe, but no quite, como alguém que existe, but not yet, como uma banana com laranja que acabaram de entrar no liquidificador e ainda não viraram suco.
Talvez banana e laranja não combinem; espero que só esteja faltando a proporção correta. Portanto está na hora de você sair de casa; bem-vindo, 2010, faça o favor de entrar.