domingo, 29 de novembro de 2009

sábado, 24 de outubro de 2009

30 - blondie

Pintei o cabelo de loiro, me achei lindíssima, cachinhos dourados, e dez dias depois percebi que minha sobrancelha me incomodava. Minhas roupas roxas ficam horríveis com cabelo amarelo (e as roxas são as minhas roupas preferidas), então cortei a franja para diminuir a loirice; não deu certo. Ultimamente passei a me sentir uma loira pintada, o que é uma verdade irrevogável.
Ando tensa, sempre com camiseta branca, dando dois pulos cada vez que um amigo me encontra e solta o "você está tão loira". Argh. Agora a raiz está crescendo. Preta.
Nunca me identifiquei com nenhuma atriz loira, de nenhuma nacionalidade - Scarlet Johansson, Brigitte Bardot, Bibi Anderson. Sempre invejei as ruivas e amei as morenas, tipo Winona Ryder, Natalie Portman, Juliette Binoche. Não tenho o sex appeal simbólico das loiras; sempre fui mais pra esquisita. Agora sou uma loira esquisita, perto dos 30, que passou a usar anti-rugas na semana passada e tem medo de começar um esporte novo - não dá pra começar a aprender futevôlei aos 30, meu Deus.
Atribuo todas as últimas agruras da minha vida à crise dos meus futuros 30 anos. A loirice também - fiquei em crise, resolvi virar loira, e agora minha crise está maior ainda. Portanto, daqui pra frente, só vou escrever sobre os meus 30 anos, e o projeto é falar de tudo tudo tudo até o dia em que minha crise passar.

sábado, 3 de outubro de 2009

30

De repente vai ser trinta. Quer dizer, não esse ano, mas o negócio é que agora é como se já fosse, e estou em plena crise dos 30 no começo dos 29. Neurótica, bem meu tipinho, vivendo uma crise terrível, tenebrosa, porque ela é justamente o contrário do que eu previa.

A verdade, mesmo, é que sempre tive medo de estar sozinha aos trinta. De não ter tido uns dois filhos aos trinta. De ser uma mulher desesperada aos trinta. De não saber o que fazer aos trinta.

O problema é que eu não acho bebês bonitinhos. Quer dizer, eles são, mas cachorro filhote eu gosto mais. Então meu medo mudou: agora eu tenho medo de nunca querer ter filho, da vontade nunca vir, e de, se um dia eu quiser, ser tarde demais, e aí eu ficar velhinha, caquética, e todo mundo estar morto, e eu estar sem ninguém no mundo, completamente maluca, andando de fralda por aí.

E não consigo pensar em relacionamento. Não consigo imaginar como seria o tal homem da minha vida que contam pra gente que existe quando a gente é criança, essa espécie de coelhinho dá pascoa no cavalo branco. Não sei se ele vai existir, e se vai ser médico, arquiteto, artista plástico ou sei lá o que. Porque não me interessa. Meu último amor era sul-africano e morava no Chipre, lindo, sem compromisso cotidiano, perfeito. Ás vezes, no sábado de noite, eu entendo que eu sinto falta. Mas passa. De verdade. Nunca achei que fosse ser de verdade. Tenho medo de ser de verdade.

Na verdade, nos 30, ou pré-30, faço de novo a mesma coisa de sempre. Meu medo mora no futuro, como sempre. Meus sonhos moram no futuro, como sempre. Meu medo é do que vai ser, porque o que é, é cool, eu administro. O presente é uma distração, rehearsal, babe.

No futuro, então, vai existir um dia em que tudo vai fazer sentido. Um dia em que eu vou resolver esse problema de sempre ter quilos a mais, em que meu cabelo vai finalmente ser enorme e eu vou fazer aquela trança que é meu sonho há uns 5 anos, em que eu vou ser tão feliz que vou trocar apelidinhos bregas com meu médico-dentista-arquiteto-marido, em que todos vão entender que foto digital pb é realmente uma merda e vão reativar os papéis fibra e retomar o império da verdadeira profundidade tonal e do tri-x no mundo, em que eu vou parar de fumar sem sofrimento e sobrepeso, e em que eu terei peitos da Gisele Bunchen.

Por enquanto vou ficando por aqui. Comprando compulsivamente melissinhas coloridas, sem móveis novos e sem querer nada que não seja ser livre, fugindo dos vínculos, filhos, maridos e animais de estimação, wondering where my new home will be next year, planejando 40 dias de férias na Índia ou nos Bálcãs.

Como sempre, desde os 15, sempre por ser, sendo. Ou sou muito infantil, ou meus amigos comprando apartamento e tendo filho são loucos. Pra mim, assim: um dia vou construir uma casa, um cachorro, um namorado e dois filhos de plástico colorido. Combina mais comigo; esses são os meus trintinha.

domingo, 16 de agosto de 2009

amor é se sentir em casa

depois de vários e vários escândalos internos, nos quais o meu cérebro tentou convencer meu coração que se ele continuasse naquele drama todo ele ia acabar me matando; de decepções amorosas cultivadas cuidadosamente em formol para resguardarem seu cheiro e gostinho originais; depois de uma crise de nervos associada à morte do meu cachorro surdo, ou, em outras palavras, à constatação de que eu estava realmente sozinha nessa cidade calorenta; depois de vários casos de amor temporários variando entre 3 encontros e 2 anos; depois de frequentar todas as festas de rockn'roll da cidade e sair achando que a música é melhor do que a vida; depois de passar um ano sem ter disposição para pegar meu diploma de mestrado impresso há um ano na UnB

- eu fui pra Paris. Voltando, varri o chão da casa, passei álcool nos móveis, fui estudar psicanálise, e não sobrou ninguém aqui dentro. Só uma sensação boa de liberdade, e a janela do quarto aberta deixa o vento entrar. 40 livros novos. Menos nomes na agenda telefônica, vamos jogar outro jogo, babe, our time is over. Now they know, now I know. Só fica quem me oferece um lugar na casinha; amor é se sentir em casa, acho.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

poisoned heart

give me your hand, I want to show you something.
don't worry. we can make it together. I like you too, you know.
rest now, kid- you'll get well soon. You just had a couple bad dreams.
so stop saying nonsense and come here.
We'll just keep going. We can make it further on.
Would you bring me a towel, please. I made you coffee. I have finished reading today's papers.
Don't know why you were crying so bad yesterday, honey.
Come on, dear. Time to go. Down to the parking lot, just a couple months, and never ever forget it for it is forever (like the elephants you love: they never forget), so trust it, please, for I'll not by any chance paste my chest against the wall. I'm not the one who'll poison your heart.

sábado, 20 de junho de 2009

thousands of miles

I told you not to, but you insisted, and I climbed the stairs all the way up, over there, where there was the door, and I came out. Over the streets, in rainy and sunny days, across the Atlantic, and then back to you, in the west coast, and the waters of the Pacific were cold, yet the sun would help us getting warm. Took off my shirt at the beach and read you a part of my favorite book: "je me fais mal à l'ideé d'avoir de moins en moins de temps devant moi. Je ne peux directemment plus rêver des vies à moi, la mienne m'habite, je fais corps avec elle". Then back to our room, and the next day in the morning I crawled down the stairs, found myself a door and came out, and this time I could see when your car left. Me back to the streets, in cold and sunny days, accross the Atlantic, while you headed up east. As time passed by I was once more going North, up to Haiti, alone, always warm there, and used to pretend I was meeting you in the empty rooms during nightime, through the screens, inside the UN cars, next to the UN building, even when everyone was around. Or in São Paulo, not to say in Brasília, during the wintertime. And it comes now, time for Paris and Munich, so I throw myself straight forward to the door, and I come in, while you take a huge cup of coffee thousands of miles away, babe.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

and so, babe:

the build up lasted for days
lasted for weeks, lasted too long

our hero withdrew when there was two
he could not choose one so there was none
worn into the vaguely announced



...the spinning top made a sound like a train accross the valley
and it faded oh so quiet but constant 'til it passed
over the ridge into the distances written on a ticket
to remind you
where to stop
when to get off

terça-feira, 9 de junho de 2009

a ante-sala do sonho

Uma amiga casou e vai viajar, e escreveu sobre a ante-sala do sonho -o espaço de lugar e tempo que antecede sua partida, de ir pela primeira vez conhecer e morar fora do Brasil.
A ante-sala do sonho deve ser tudo aquilo que pisamos antes de entrar no sonho. Os momentos antes de eu dormir, quando ainda não estou mais lá e muito menos aqui, nesta cama. O que ainda não se desdobrou mais já não é mais semente. A ante-sala há de ser alguma coisa de além, alguma coisa que se movimenta devagar antes de chegar lá, se é que pra quem está nela de vez em quando parece um tempo que não se move, um minuto congelado entre dois mundos. Quando a gente é criança e vê a onda quase quebrando mas ainda não, e o tempo pára para esperar. A ante-sala do sonho.
A ante-sala do sonho precede o sonho. A ante-sala do sonho precede o que é desejado antes dos tempos, a ante-sala é talvez a expressão mais terna e verdadeira da esperança (e também da angústia) - o lugar onde deixamos de tocar o absoluto por um milímetro, e este milímetro fica cada segundo mais perto, e tão perto que a gente quase consegue tocá-lo mas. Quando deixamos a ante-sala, aí sim, aí ele fica longe, porque já não é sonho, e não é mais de outros tempos. A ante-sala do sonho é o próprio sonho, à sua maneira. Porque a ante-sala do sonho é a própria matéria do sonho, o sonho em semente e em si mesmo, integral em tempo e espaço, absoluto - porque a ante-sala não é nem tempo nem espaço, a ante-sala do sonho é onde nos fundimos no próprio sonho, antes e depois dele, nunca durante.
Nestes últimos tempos faz frio, e seca, e o tempo parece esticado. Minha ante-sala de um sonho que eu não conheço, que muda de forma e de cor de vez em quando, e às vezes é um sul-africano numa ilha distante, outras vezes é uma bicicleta em Paris ou um parque com topless em Munique, uma xícara de chá e quinze horas de sono no sábado. Por incapacidade ou sabedoria, ainda estou tentando entender, mas me sinto eu própria a ante-sala de um sonho meu que me é a um só tempo desconhecido, antes e depois dele, nunca durante. Digamos em outras palavras: eu, quase.

quinta-feira, 26 de março de 2009

like a fever

Eu contei um dois três a respiração eu já estava prendendo há muito muito tempo atrás e abri os olhos para saber que não não era você lá. Apesar do mesmo cabelo, ele talvez um pouco mais novo (é - ele não tinha as suas entradas na testa), magro também, e até as roupas mesmo parecidas. Eu disse olá, ele respondeu em português, e eu deslizei o pensamento nestes meus daydreams/and we flew into it ("like a fever", dirá alguém) e você tinha aprendido a minha língua para fazer uma surpresa depois de algum 12 hours flight. "Olá", ele respondeu, e eu esqueci de perguntar como ele chamava. Hora de descer, e eu prestei atenção quando ele tirou a camisa, eu já pas d'espoir, já procurando cicatriz no seu braço (eu pensei em perguntar), mas não, ele não saberia responder em afrikâner. Fui embora mais cedo para não termos que ser apresentados.
Peguei depois todos os filmes que se passam na África na locadora ao lado de casa. Nada de histórias nos países árabes do norte, nem nos lusófonos e muito menos nos de língua francesa. Eu desenhei pra gente uma casa de madeira em alguma praia ou lago despovoado na África do Sul Quênia Nigéria, e imaginei uns patos voando por lá no final da tarde (dizem que tem), algum carro branco sujo que passava pela estrada, e imaginando tudo imaginei também que mudava a passagem que eu tinha para Paris, trocava as aulas de francês e o possível novo corte de cabelo cocote por uma bermuda velha qualquer e um chinelo pra gente caminhar na beira do mar africano.
Hoje à noite vou chegar mais cedo na aula. Eu e ele vamos nos cumprimentar mais uma vez "olá" e. é, ele fala português. ou talvez seja você de volta, we back again, after a 12-hour-flight.

("you know, J? What if us both pretend we're together tonight at your hotel room in Albania - if we do that, do you think maybe our wishes can come true soon?").

segunda-feira, 16 de março de 2009

e.e. cummings

i love my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones,and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you
i like,slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur,and what-is-it comes
over parting flesh... And big eyes love-crumbs
and possibly i like the thrill
of under me you so quite new


Eu amo imaginar você lembrando de mim através de uma poesia que você talvez nunca vá ler. Por isso, talvez mais do que por qualquer outra coisa, eu peguei estes poemas mais líricos-concretistas do Cummings pra mim, como se eles fossem uma declaração de amor que um dia eu espero de você, ou que talvez você faça de outro jeito. Ou como algo que nunca vai acontecer. Mesmo, talvez, como algo que você já fez (mais provavelmente).

Não importa mais.

(it just feels good)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

I wish

I wish I could fly. And play the piano. And write a romance before I die - a long skeptical one, with biographical features, on humanity and love. I wish I could write just like Cees Nooteboom or Paul Auster.
I wish I were much skinnier, and I specially wish I had skinnier legs, 'cause in fact I hate mine and sometimes I do feel like a short elephant walking around in my microskirts.
I wonder when my hair will finally get long, and I wish that to be soon, but I know it will take a long long time, and I'm not sure I'll be patient enough. I once had plans, but now I don't. I wish I could recall them all and believe a couple of them, but it's late, I think. Actually, I wish I could have new plans, but I guess I'm more a dreamer-type, and after a while I often get bored of plans, timetables and commitments, so that I dive into nowhere land, somewhere between here and another place which I'm always waiting to visit yet I never get to reach. I wish I could live there.
I wish I could had stronger beliefs, understand myself and forgive me more easily for my mistakes. Yet this year I feel good about being my own partner, and after all I guess I'm beginning to realize wishing is itself a way of being strong.
(To Glenio)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

outras encarnações

Sem romantismos: na minha segunda prática de yoga, aqui na Bahia, descobri o mistério das vidas passadas. Fui um caranguejo que comia camarão, dormia na praia e mordia as pessoas na areia. Trancoso rocks, especialmente com uma cerveja no final da tarde.