O fato é: fiquei cansada dos grandes temas da humanidade.
Comprei o Le monde diplomatique Brasil hoje de manhã e me deu nos nervos. Não é que concorde ou discorde dos artigos; é outra coisa. É uma indisposição, ou talvez pura e simplesmente uma falta de de paciência para refletir sobre o papel do indivíduo e a condição de vítima nas ações humanitárias internacionais, sobre os cenários futuros e possíveis desdobramentos da crise americana, sobre o resultado da eleição nos Estados Unidos. E o problema vai além da geopolítica e da economia mundiais. De uma hora para a outra, passou a valer para as grandes reflexões sobre relacionamentos afetivos, sobre a realização de sonhos profissionais, sobre a solidariedade e o amor ilimitados entre os amigos.
Na minha última sessão de análise, cheguei à conclusão: tornei-me uma megera. Sem pudores para dizer não, sem minhas risadas altas e bestas - inclusive sem senso de humor -, sem minhas típicas falas sobre a esperança na humanidade. Agora fiquei econômica com as palavras, e não fico na sala depois de acabar a reunião, discutindo possíveis ações cooperativas - está encerrado, estas são as tarefas de cada um, ponto final. Até emagrecer eu emagreci.
Achei que seria o meu fim: depois de 3 anos de disco arranhado tocando frustrações amorosas, um ano e meio de sessões intensivas de psicanálise, e ouvido ultra-cansado dos meus amigos mais próximos, pensei, virei exatamente o avesso de mim mesma. Sou azeda, brava e pouco poética. Deixo de ser fraca para ser forte, segura e incisiva.
O que me salvou foi descer pra levar o Tufik para passear e no início do passeio dividir minha mixirica com o porteiro. Ficamos conversando, eu e ele - as modificações na quadra, a biblioteca popular, as vagas na garagem, um menino que foi sequestrado nas redondezas ontem à noite. Ufa. No fundo, no fundo, a compaixão pelo outro beneficia sobretudo a pessoa compassionada. Volto a me sentir uma pessoa depois do dia cão em que me tornei supra-humana. Salve a dúvida, o sonho, a incerteza, a coragem de amar e a coragem de sofrer; os passeios noturnos com o cachorro e sobretudo, neste momento, o senhor Egídio, porteiro das mais altas virtudes. Hoje sou fã das pequenas humanidades.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Voilà. O que interessa é o que chega bem pertinho da gente. Tipo o sol de manhã cedinho batendo no rosto, hora de acordar. beijim de amor.
Oi querida!!
Adorei as tuas pequenas humanidades!
E elas mexeram comigo ao ponto de parar e observar ao meu redor.
As grandes discussões realmente cansam a alma.
Beijos e bom final de semana!
"No fundo, no fundo, a compaixão pelo outro beneficia sobretudo a pessoa compassionada."
Acho que temos mais em comum do que o layout!
=P
Bacana aqui!
Beijo.
Mari é a além-da-mulher.
até azeda tu é doce, amor!
bjs
Postar um comentário