domingo, 27 de janeiro de 2008

things change, but not quite

Se eu tivesse esperado um ou dois dias a mais antes de te dizer que não; e se naquele final de semana nós dois tivéssemos visto a björk cantando all is full of love juntos no Rio; se tivesse feito mais frio nas noites de dezembro em brasília, e de surpresa você me ligasse numa sexta às 11 e meia pedindo um cachecol cor-de-rosa da bósnia; e se eu pudesse te ligar hoje, no meio da chuva, e te convidar pra tomar uma xícara de chá de hortelã com mel e ouvir cat power; e se no dia 1º de janeiro de 2008 eu tivesse sentido, como sentia antes, que acordar do seu lado era melhor do que dormir até mais tarde; e se você encostasse na minha mão agora, será que eu iria esperar, devagarinho, pra segurar na sua?

Hoje eu assisti down by law e lembrei de você, especialmente no começo, quando tocava aquela música do tom waits. Depois fiz café com leite bem quente, e deitei na sala com o tufik. Chove bastante agora, e eu fico pensando sobre o show do yo la tengo em maio, e imaginando como seria lindo se eles tocassem take care. Eu escovo os dentes, faço um chá de camomila e me preparo pra dormir; fecho as janelas e as cortinas da sala; arrumo o edredon e separo a paixão segundo gh pra ler na cama.

Você está tão longe, em outro país. Eu não tenho fotos suas. Nem nossas - estranho, nós nos prometemos tantas vezes ser donos do tempo. Então não consigo lembrar do seu rosto direito; eu, que redesenhava cada parte de você quando a gente estava longe. O seu cheiro, eu às vezes sinto nos corredores, quando passa alguém que usa o mesmo perfume que o seu. Virou o cheiro de lugar nenhum, dos corredores anônimos em edifícios públicos, de ausência. Da falta de chuva em dezembro do ano passado, do show da björk que eu assisti emocionada no meio da multidão, com o coração apertado. Do chá de camomila que hoje eu prefiro ao de hortelã, da coberta listrada azul, rosa e lilás que eu uso pra me esquentar de noite, quando está frio lá fora e sem querer eu esqueço a janela aberta.

2 comentários:

Rita Loiola disse...

Porque as fotos importantes quase nunca existem na gaveta do armário... elas ficam na memória como as paisagens que a gente vê e não fotografa. Como o pôr do sol que vi em Londres e lembrei de você porque achei a cidade feita sob medida para quem toma chá de camomila à noite e sente falta. para você, para nós. saudades e um abraço com sopro de sol depois da chuva, com bolo quente prá ser feliz.

Ju disse...

pra que fotos com tanta sinestesia?
há coisas que vivem melhor na lembranças, no coração e nas palavras. ainda que a distância sufoque. aprendi assim a deixar de ser criança...
beijo, amiga. amo você.