quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
irreversível
olhares irreversíveis: eu nunca mais poderei ser a mesma. chegando na aula, uma calça jeans velha - será que eu engordei de ontem pra hoje? -, sete textos em cima da pasta, uma bolsa grande, tanta preguiça, que olheira horrível você tem, Mariana (eu pra mim mesma, bestamente), o professor falando bobagens pouco razoáveis, e eu levanto distraidamente a mão hedley bull para dizer que sim, é um passo para o mundo construído e você. eu nem olho, mas você do meu lado, e então eu noto sem saber que noto que você tem covinhas, mas sobretudo eu noto que você mexe no meu cabelo sem sair do lugar, sem mexer no meu cabelo; "eu sei que", mas ouvindo o silêncio que você enuncia pra sala inteira, pra ninguém. e eu, pra dizer bem a verdade, abandono rapidinho o bull e o martin wight, o mundo linguisticamente construído, as normas de instrução e a universalidade dos direitos humanos, eventualmente até a importância do reconhecimento historiográfico do genocídio africano, e saio da sala, para o intervalo, como se andasse para uma outra cantina, numa outra universidade, em tempos imemoriais que não existem e que jamais existirão (pouco importa). e você veja, agora. que passaram dois anos, e você surgiu de novo no natal do ano passado, e neste ano, há um mês atrás. mais rápido que o obturador da minha câmera preferida, eu capto seu olho no meu, um segundo ou dois ou menos, três vezes em dois anos e pluft já é do tamanho da minha vida inteira.
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2 comentários:
o eterno retorno, né? saudades de vc, marimari...
Genial, mulher.
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