segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

30 - sobre o ordinário

odeio e sempre odiarei o ordinário, mas não sou feliz por isso.
minha vida sempre foi um esforço louco por amar o dia-a-dia, o comum, o detalhe óbvio que ninguém repara, o som da chuva, o domingo, os vínculos que a gente cria, recria e reinventa o tempo todo. um esforço cão para dar vida ao lugar-comum.
nunca consegui. não tenho esse dom, definitivamente. só tenho capacidade de amar o pequeno quando ele é extraordinário, muito muito extraordinário pra mim. odeio a remota ideia de que eu vou viver na mesma cidade pelo resto da vida. pessoas lindas, absloutamente lindas são só aquelas que eu amo, e o mundo se divide entre elas e um monte de gente sem graça de quem eu esqueço o nome. eu gosto de olhar a minha foto preferida dez mil vezes, e cada vez eu vou tratá-la com uma cor a mais no photoshop, e isso vai demorar, sim, uma hora e quarenta, e ninguém neste planeta vai suportar ficar perto de mim; e pra sempre sempre sempre vou ver o ballad of the sexual dependence da nan goldin com lágrima no olho, e ouvir she came through the bathroom window ou berlin e ficar quietinha 30 segundos depois porque é tão lindo que. não adianta, porque eu falo no superlativo, faço esportes até o limite das minhas forças e depois me machucho tanto que não existe fisioterapia que me recupere, e indefectivelmente como macarrão ao sugo até explodir. sou uma tragédia ambulante, um treco movido pela compulsão do extraordinário. só amo as coisas quando elas são tão especiais que me fazem sair do conhecido mil vezes.
mais do que nunca, sinto que o mundo requer que eu passe a amar o ordinário agora, quando estou estou chegando perto dos 30. todo mundo com filho, todo mundo querendo comprar terreno, a maioria com um carro melhor do que antes, as famílias dos meus amigos vão crescendo, e cada vez mais vem o "adivinha quem tá grávida, Mari?". acho bonitinho. entendo. não faz nenhum sentido pra mim.
às vezes eu me sinto como se fosse uma alienígena. de vez em quando eu sofro, e esses tempos andava meio triste, meio quieta sem saber por quê, sem nem saber se era tristeza, mesmo, ou se um nem saber o que sentir, um lugar nenhum. já acordei de noite duas vezes, assustada, com vontade de chorar, e chorei porque era bom, bom chorar. sem nenhuma razão.
fiquei com vontade de amar o ordinário. não consigo. não amar o ordinário faz sofrer. depois de 3 anos de análise realmente descobri que fico mais feliz fazendo parte de outro planeta, que não ter que amar o inamável é a melhor forma de respirar. and I kinda like it.
saí e comprei uma bicicleta azul de corrida.

Um comentário:

Rita Loiola disse...

issaê, gata. acho que é bom descobrir que que o mundo de Mari vai sempre com ela, mas bem longe do chão... por aqui também é assim. Depois vc me dá o ticket prá entrar?