terça-feira, 9 de junho de 2009

a ante-sala do sonho

Uma amiga casou e vai viajar, e escreveu sobre a ante-sala do sonho -o espaço de lugar e tempo que antecede sua partida, de ir pela primeira vez conhecer e morar fora do Brasil.
A ante-sala do sonho deve ser tudo aquilo que pisamos antes de entrar no sonho. Os momentos antes de eu dormir, quando ainda não estou mais lá e muito menos aqui, nesta cama. O que ainda não se desdobrou mais já não é mais semente. A ante-sala há de ser alguma coisa de além, alguma coisa que se movimenta devagar antes de chegar lá, se é que pra quem está nela de vez em quando parece um tempo que não se move, um minuto congelado entre dois mundos. Quando a gente é criança e vê a onda quase quebrando mas ainda não, e o tempo pára para esperar. A ante-sala do sonho.
A ante-sala do sonho precede o sonho. A ante-sala do sonho precede o que é desejado antes dos tempos, a ante-sala é talvez a expressão mais terna e verdadeira da esperança (e também da angústia) - o lugar onde deixamos de tocar o absoluto por um milímetro, e este milímetro fica cada segundo mais perto, e tão perto que a gente quase consegue tocá-lo mas. Quando deixamos a ante-sala, aí sim, aí ele fica longe, porque já não é sonho, e não é mais de outros tempos. A ante-sala do sonho é o próprio sonho, à sua maneira. Porque a ante-sala do sonho é a própria matéria do sonho, o sonho em semente e em si mesmo, integral em tempo e espaço, absoluto - porque a ante-sala não é nem tempo nem espaço, a ante-sala do sonho é onde nos fundimos no próprio sonho, antes e depois dele, nunca durante.
Nestes últimos tempos faz frio, e seca, e o tempo parece esticado. Minha ante-sala de um sonho que eu não conheço, que muda de forma e de cor de vez em quando, e às vezes é um sul-africano numa ilha distante, outras vezes é uma bicicleta em Paris ou um parque com topless em Munique, uma xícara de chá e quinze horas de sono no sábado. Por incapacidade ou sabedoria, ainda estou tentando entender, mas me sinto eu própria a ante-sala de um sonho meu que me é a um só tempo desconhecido, antes e depois dele, nunca durante. Digamos em outras palavras: eu, quase.

Um comentário:

Rita Loiola disse...

li há alguns dias e tenho pensado muito nesse antichambre, se é que vc me entende... vc me faz pensar tanto, marimari...