sábado, 3 de outubro de 2009

30

De repente vai ser trinta. Quer dizer, não esse ano, mas o negócio é que agora é como se já fosse, e estou em plena crise dos 30 no começo dos 29. Neurótica, bem meu tipinho, vivendo uma crise terrível, tenebrosa, porque ela é justamente o contrário do que eu previa.

A verdade, mesmo, é que sempre tive medo de estar sozinha aos trinta. De não ter tido uns dois filhos aos trinta. De ser uma mulher desesperada aos trinta. De não saber o que fazer aos trinta.

O problema é que eu não acho bebês bonitinhos. Quer dizer, eles são, mas cachorro filhote eu gosto mais. Então meu medo mudou: agora eu tenho medo de nunca querer ter filho, da vontade nunca vir, e de, se um dia eu quiser, ser tarde demais, e aí eu ficar velhinha, caquética, e todo mundo estar morto, e eu estar sem ninguém no mundo, completamente maluca, andando de fralda por aí.

E não consigo pensar em relacionamento. Não consigo imaginar como seria o tal homem da minha vida que contam pra gente que existe quando a gente é criança, essa espécie de coelhinho dá pascoa no cavalo branco. Não sei se ele vai existir, e se vai ser médico, arquiteto, artista plástico ou sei lá o que. Porque não me interessa. Meu último amor era sul-africano e morava no Chipre, lindo, sem compromisso cotidiano, perfeito. Ás vezes, no sábado de noite, eu entendo que eu sinto falta. Mas passa. De verdade. Nunca achei que fosse ser de verdade. Tenho medo de ser de verdade.

Na verdade, nos 30, ou pré-30, faço de novo a mesma coisa de sempre. Meu medo mora no futuro, como sempre. Meus sonhos moram no futuro, como sempre. Meu medo é do que vai ser, porque o que é, é cool, eu administro. O presente é uma distração, rehearsal, babe.

No futuro, então, vai existir um dia em que tudo vai fazer sentido. Um dia em que eu vou resolver esse problema de sempre ter quilos a mais, em que meu cabelo vai finalmente ser enorme e eu vou fazer aquela trança que é meu sonho há uns 5 anos, em que eu vou ser tão feliz que vou trocar apelidinhos bregas com meu médico-dentista-arquiteto-marido, em que todos vão entender que foto digital pb é realmente uma merda e vão reativar os papéis fibra e retomar o império da verdadeira profundidade tonal e do tri-x no mundo, em que eu vou parar de fumar sem sofrimento e sobrepeso, e em que eu terei peitos da Gisele Bunchen.

Por enquanto vou ficando por aqui. Comprando compulsivamente melissinhas coloridas, sem móveis novos e sem querer nada que não seja ser livre, fugindo dos vínculos, filhos, maridos e animais de estimação, wondering where my new home will be next year, planejando 40 dias de férias na Índia ou nos Bálcãs.

Como sempre, desde os 15, sempre por ser, sendo. Ou sou muito infantil, ou meus amigos comprando apartamento e tendo filho são loucos. Pra mim, assim: um dia vou construir uma casa, um cachorro, um namorado e dois filhos de plástico colorido. Combina mais comigo; esses são os meus trintinha.

4 comentários:

Rita Loiola disse...

Ah, Mari, que crise que nada. O negócio é ter 60 anos, pintar o cabelo de roxo e tocar o horror na juventude. Vamos?

Matheus Carvalho disse...

“If I take death into my life, acknowledge it, and face it squarely, I will free myself from the anxiety of death and the pettiness of life - and only then will I be free to become myself.” Martim Heidegger

Joice Nunes disse...

daqui da fortaleza eu te achei. seremos vizinhas pela palavra. beijos.

Tatiana Carpanezzi disse...

Hahaha, te digo uma coisa: a crise dos 30 é beeeeem pior que a dos 40. E ter filhos, para mim, ficou para a próxima vida. bjos, prima!