segunda-feira, 19 de novembro de 2007
dias de ter sono
Dias de ter sono, para abrir as janelas e os olhos, e depois dormir de novo, e no meio de tudo, tudo. E ter sono de novo, e dias de ter sono. O ordinário mais pequeno e mais besta, o Tufik que absurdamente dá umas pastadinhas no jardim, o café com leite morno sem açúcar de manhã, as roupas do dia anterior em cima da cadeira, o vizinho que sai de carro mais cedo do que eu; os mais chatos dos cachorros peludos que saem pra passear, as músicas mais imbecis que tocam no rádio, as notícias inúteis de todos os dias na folha; eu gosto de tudo isso, do que é feio e chato, do que não tem graça, do que não é virtuose. Do erro de ser só aquilo que se pode ser, da preguiça e da vontade de dormir, da decisão desajeitada, do tropeço, da roupa um pouco amassada, do cabelo que não se ajeita, do óculos fora de moda, da perna que é mais grossa do que deveria; da pressa, da angústia que é vida. Eu gosto da compaixão e da esperança, da fagulha que nasce quando tudo parecia morto, do suspiro cansado que faz reviver, do som do vento atrapalhando o silêncio perfeito, da risada inesperada que substitui a condenação; da virtude humana que emana dos nossos pecados indefectíveis, e do perdão que, como diria alguém, é a melhor forma de resistência às crueldades de toda sorte.
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Um comentário:
Oi Mari!
Gostei muito.
Bjs, com sono,
Anne
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