domingo, 17 de junho de 2007
pequeno como
Você toca o meu cabelo, e eu tenho vergonha, porque não tenho vergonha de nada, mas ainda não sei reagir a você tocando de leve no meu cabelo. E nada acontece, a não ser você rindo um pouco antes e um pouco depois, mas eu não rio. Eu quero encostar no seu cabelo também, mas não faço nada, fico quieta, olho pra baixo e acendo um cigarro bem devagar. Faço um olhar blasé qualquer, saio de perto de você como se estivesse precisando de mais um copo de bebida, atravesso toda a festa pra pegar a bebida que eu não quero tomar, volto e você ainda está no mesmo lugar, me olhando. Então eu sento, falo uma bobagem, que é pra você ir embora, procurar outra coisa, enquanto eu, sentada no banco, digo pra mim mesma que um dia, pode ser, se as coisas forem diferentes, a gente se encontra num outro lugar, numa outra hora e. No dia em que eu estiver correndo pra fazer qualquer coisa, saindo do trabalho às seis com um monte daqueles papéis que eu sempre carrego e não leio, com minha bolsa roxa grande, cantando uma musiquinha besta dos Beatles que eu não consigo tirar da cabeça há anos, e que você vai reconhecer. Vou gostar do seu comentário bonitinho, e sem querer vou mexer no seu cabelo, e sem perceber vou ter mexido no seu cabelo, você vai entender, eu vou rir. No dia em que não tiver uma bebida, um cigarro, uma bobagem pra dizer pra você ir; no dia em que você puder mexer no meu cabelo, no dia em que eu puder mexer no seu, e no dia em que as gotinhas de tempo pinguem devagar, que é pra mais ninguém ver porque é pra ser um segredo, como a musiquinha boba dos beatles que você conhece e eu também.
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2 comentários:
O tempo, mon amour, um dia eu aprendo um jeito de fazer ele correr bem depressa prá fazer as coisas passarem logo e chegarem logo no momento do fim do seu texto. Aí eu me ensino e prometo que te ensino.
tocar no cabelo é como querer roubar um pouquinho das idéias da cabeça alheia...
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