Eu vejo, assim, a trepadeira sem folha dominando o muro inteiro da casa dos meus pais em Curitiba. "Deve estar morta", diz meu pai no domingo de manhã, "faz um ano que já não dá folha". Faz frio, mas de manhã sai aquele sol-que-dura-uma-hora, e eu fico ali com o cachorro, como eu fazia quando morava aqui. Sentar no chão enquanto tem sol, e quando ele vai embora, entrar na casa gelada. O cachorro vai no meu colo, manca e anda devagar; acho que está doente.
Dizem que no inverno da Escandinávia as pessoas saem na rua pra tomar sol, simplesmente. Aqui é igual. O clima me dá alergia instantânea: chegar e ficar com o nariz entupido. Sempre odiei. Sempre odiei o vento encanado na XV, minha sala horrorosa no prédio-fantasma da faculdade de direito, ter que esquentar a calça jeans embaixo da coberta pra poder vestir de manhã quando faz frio, as pessoas usando jaquetas de couro feias de matar. Sempre odiei o complexo de bares da Carlos Cavalcanti, os festivais de pieroghi, um certo sentimento de cidade do interior e, acima de tudo, sempre odiei um certo modo de vida Madalosso de final de semana.
Esse inverno aqui está horroroso, parece que começou em março. Mas eu gosto desse frio, estranhamente. Mas dessa vez eu gosto de estar aqui, estranhamente. Das pessoas, das memórias, do meu quintal. Dos mesmos amigos, das mesmas histórias, de fotografia, de tudo. Do não-descartável da vida, do compromisso, do amor. De tudo que tem de denso, lento, abismal no frio e nas cidades que nos significam. E assim, simplesmente, percebo que eu sou definitivamente uma pessoa de invernos, e que é bom estar aqui de novo. Love's not a lost land.
domingo, 13 de junho de 2010
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Um comentário:
curitiba em junho, cheiro de quentão e pinhão cozinhando no fogo é tudo o que eu amo e tudo o que eu odeio nessa cidade. um beijo de nariz gelado e fim de domingo de são paulo pra você!
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