domingo, 21 de dezembro de 2008

A long and winding road

Minha vida é feita de esqueletos que sazonalmente saem dos seus armários e dão uma volta pelo apartamento. Pra evitar assombrações inoportunas e garantir o equilíbrio do incontrolável, o mais comum é eu mesma abrir a porta do baú, dar uma olhadinha pra ver como estão e eventualmente uma espanada pra garantir o brilho e a atualidade de todos, e depois de cumprida a missão trancá-los todos, bem fechadinhos, de novo. É difícil eu mandar alguém pra fora de casa, porque a verdade, mesmo, é que eu lamentavelmente alimento uma espécie de estima pelos meus fantasmas - o namorado do primeiro grau, a saudade de Nova York, o beijo que eu não tive coragem de dar no menino que hoje vive nas Filipinas.
Pois neste fim de ano meus mortos-vivos resolveram sair do armário todos at once. E assim, de uma hora pra outra, minha caixa de correio ficou abarrotada com três enormes convites de casamento de amigos com quem não falo há séculos. No celular, fantasmagóricas mensagens de voz: aniversário de quatro anos do bebê da amiga querida; nascimento e batizado do bebê da outra; ex-amor-da-vida argumentando "sinto sua falta", "não me julgue" e desejando boas festas. Presentes, os mais lindos e inesperados, que chegaram e permaneceram em cima da mesa, com cartões, fotos e outras fofuras, e minha absoluta incapacidade, neste ano, de retribuir com qualquer palavra ou gesto análogo.
Eu me preparo para a segunda-feira. Checo os e-mails, respondo alguns, e sem mais intenções reparo numa foto que encontrei na semana passada. De casaco preto e cabelo curto, rindo, na primeira vez em que vi neve. Eu morava em Nova York, e o inverno começava. A foto é linda, eu era mais gordinha e mais nova. Não foi há tanto tempo, mas foi há tempo suficiente. Respiro fundo e resolvo dormir. It's a long and winding road.

Um comentário:

Rita Loiola disse...

chorei. to exatamente assim. te amo.