Passa da meia-noite, portanto vivemos todos, no Brasil, o inevitável dia dos namorados.
Ano passado, para comemorar, fui tomar cerveja com meus amigos solteiros ou namorantes-mal amados. O resultado inesperado foi me tornar uma semi-namorante mal-amada de um dos namorantes-mal amados convidados. Bad, bad. Resolvi mudar de programa.
Assim, em 2008, à beira do fim da dissertação, solteira após um quase-casamento discursivo, reservei-me o direito de tomar uma caixa de cervejas sozinha, pensando nos grandes amores da minha vida, sendo besta e nos intervalos escrevendo sobre genocídio.
Descubro que o maior amor da minha vida é o Thom Yorke, meu Tufik em forma de gente. Eu poderia ariar panelas com o pior bombril do mundo só para estar com ele. Lindo, especialmente quando decide ficar loirinho e cantar Creep. Lots of love. Número 1, 2 e 3 absoluto; quaisquer outros estão a quilômetros de distância.
Segundo lugar, plenamente, o sexy boy James Murphy, o one man army do LCD Soundsystem. Sempre achei meninos barrigudos o máximo. E ele deve ser engraçado, querido, cool e tomar cerveja gelada (ao contrário do Thom Yorke, que deve ser um chato). E tem a melhor música "4" de todos os tempos: someone great é linda como ele; sensível, como ele deve ser; romântica e pós-moderna, sem amor eterno, mas cheia de desejo infinito. O sotaque dele é a encarnação absoluta de todos os nova-iorquinos, imigrantes ou não, que já passaram por Nova York. E eu sinto muito falta de lá. Talvez seja só isso.
E por fim, quem diria, o maravilhoso Ian Thorpe, nadador esquisito de pés número 50. Fala bobagens, muitas, mas nada borboleta lindamente com sua roupa escamada testada e retestada muitas vezes pela Adidas. Eu me apaixono toda vez que vejo a saída dele, com a câmera embaixo da água. Nunca tive predileção pela Austrália, mas agora tenho vontade de visitar.
De volta à Terra, a dissertação vai que vai, nos últimos momentos. Decidi que vou resgatar a velha passagem aérea da TAM, tantas vezes cancelada ao longo do ano, e passar férias no Rio de Janeiro, em julho. Daqui a um mês. Em plena liberdade, com meus queridos e com minha cidade de estimação, meu chaveiro de alegrias - Andrezinho lindo, Márcia e Felipe, acampamento em quitinete para o show da Bjork, boteco barato, sujeira e escrotices variadas. In love with none.
Feliz dia dos namorados.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Para ler ouvindo Anthology 3
De repente, Nada. Com letras maiúsculas, mesmo - esse Que-Não-É.
Isso que não tem nome ou futuro: a absoluta falta de planos, de desejos pulsantes de ser isso ou aquilo outro - uma renomada militante de direitos humanos, uma artista plástica fenomenal, uma nadadora invencível. De um dia para o outro, atravessar a rua para pegar o cachorro que foge, o silêncio às sete e meia da noite, a singela volta pra casa, comer fumar dormir e só. Pão com queijo, café com leite, uma cerveja meio quente, um edredon quentinho com uma das janelas abertas. Sem música. Sem ler o jornal do dia. Sem ligações 'estava com saudade e fiquei com vontade de te dizer boa noite'. Sem medo. Sem vontade de dormir um pouco mais. Sem hidratante com cheiro de baunilha e sem novos shampoos anti-frizz.
Sem mais nem menos, assim, tão besta, você não quer voltar o tempo pra fazer tudo certo. O certo, aliás nem faz sentido mais. Passou aquela raiva, a rejeição intragável, a vontade de quebrar a casa dele e queimar as cartas e fotos que sobraram. Acabou a espera, e sobretudo acabou a esperança. O amor, este parece que nunca existiu. Também sumiu a presença deste fiozinho tão besta que liga os anos que passaram, as tardes em Curitiba e os dias de neve em Nova Iorque com a manhã de hoje, que estava fria e bonita como costuma acontecer durante a seca de Brasília. A lembrança existe e é inerte.
Um dia você abre a porta de casa para trabalhar e depois volta, oito horas mais tarde. Sem estar cansada. E assim, nem mais nem menos, esquece de ligar o som. O cachorro surdo dormindo esquece de fazer a festinha usual, e você abaixa, pega no colo, faz um cafuné e ele te sorri o seu esplêndido sorriso de cão. A tpm do mês passou e você nem percebeu. Já é sexta-feira, e você nem notou. Os ipês na Esplanada floriram, você se dá conta singelamente.
Talvez seja um efeito de Persona, a Liv Ullmann tão linda e tão culpada que subitamente resolve parar de falar. Ou os vários cds do Arnaldo Antunes, as infindáveis sessões de análise, os quilos que eu perdi nos últimos meses. Como diria a Julita, a salvação é perceber que se está completamente fodido; aí começa tudo. De repente, o Nada, o terrível e insípido Nada, se converte no maravilhoso que é ser o absoluto do avesso, o escuro que consome tudo devagar sem deixar nem vestígios nem mágoas, a possibilidade ilimitada de ser, ou simplesmente a leveza de tornar-se qualquer coisa que não tem e não precisa de nome.
Isso que não tem nome ou futuro: a absoluta falta de planos, de desejos pulsantes de ser isso ou aquilo outro - uma renomada militante de direitos humanos, uma artista plástica fenomenal, uma nadadora invencível. De um dia para o outro, atravessar a rua para pegar o cachorro que foge, o silêncio às sete e meia da noite, a singela volta pra casa, comer fumar dormir e só. Pão com queijo, café com leite, uma cerveja meio quente, um edredon quentinho com uma das janelas abertas. Sem música. Sem ler o jornal do dia. Sem ligações 'estava com saudade e fiquei com vontade de te dizer boa noite'. Sem medo. Sem vontade de dormir um pouco mais. Sem hidratante com cheiro de baunilha e sem novos shampoos anti-frizz.
Sem mais nem menos, assim, tão besta, você não quer voltar o tempo pra fazer tudo certo. O certo, aliás nem faz sentido mais. Passou aquela raiva, a rejeição intragável, a vontade de quebrar a casa dele e queimar as cartas e fotos que sobraram. Acabou a espera, e sobretudo acabou a esperança. O amor, este parece que nunca existiu. Também sumiu a presença deste fiozinho tão besta que liga os anos que passaram, as tardes em Curitiba e os dias de neve em Nova Iorque com a manhã de hoje, que estava fria e bonita como costuma acontecer durante a seca de Brasília. A lembrança existe e é inerte.
Um dia você abre a porta de casa para trabalhar e depois volta, oito horas mais tarde. Sem estar cansada. E assim, nem mais nem menos, esquece de ligar o som. O cachorro surdo dormindo esquece de fazer a festinha usual, e você abaixa, pega no colo, faz um cafuné e ele te sorri o seu esplêndido sorriso de cão. A tpm do mês passou e você nem percebeu. Já é sexta-feira, e você nem notou. Os ipês na Esplanada floriram, você se dá conta singelamente.
Talvez seja um efeito de Persona, a Liv Ullmann tão linda e tão culpada que subitamente resolve parar de falar. Ou os vários cds do Arnaldo Antunes, as infindáveis sessões de análise, os quilos que eu perdi nos últimos meses. Como diria a Julita, a salvação é perceber que se está completamente fodido; aí começa tudo. De repente, o Nada, o terrível e insípido Nada, se converte no maravilhoso que é ser o absoluto do avesso, o escuro que consome tudo devagar sem deixar nem vestígios nem mágoas, a possibilidade ilimitada de ser, ou simplesmente a leveza de tornar-se qualquer coisa que não tem e não precisa de nome.
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