domingo, 26 de agosto de 2007

aldo quer ser o dono do tempo

Você coloca um monte de água na mão de conchinha e vê ela escorrendo devagar, dizia este amigo querido, que naquele momento estava tentando fazer a mão dele virar uma espécie de caixa hermética, quase um contâiner para materiais radioativos, do qual nenhuma gota de água, nenhuma memória, nenhum pedaço do que fosse vivido pudesse escapar. Mas não importa o quanto você feche os dedos ou curve a palma da mão, porque nunca, nunca, nunca a água fica ali. Então a gente coloca a mão de novo na bacia pra ver se dá certo, e pluft: mais uma vez. Aí a gente ri de ser tão estúpido.

Meu outro amigo, João, me liga informando várias coisas. Ele diz que a gente se conhece há dez anos, e eu respondo pra ele que isso é tão bom, e é como se eu pudesse ver a gente fotografando com nossas yashicas pequenas. Ele também explica duas certezas: o amor é aqui na nossa frente; o amor é a quilômetros de distância.

"Porque meu analista falou que as paixões são bobagens, e a vida tem que ser mais feita de pragmatismos", me diz este outro menino ateu. Constatando que a vida é pragmática, ele então decide casar. Eu acho estranho, um pouco triste, um pouco engraçado, e entendo, do meu lado de pessoa que não acredita em ateísmos de qualquer ordem, que a gente vive precisamente o que consegue viver, e que isto é a coisa mais bonita do mundo.

Eu chego em casa neste domingo à noite de um fim de semana enorme, que já dura uns três meses, e o Tufik está me esperando, impassível. Eu compro uma passagem pra Curitiba, pra visitar meus pais e ver o mar. Entro na internet pra trabalhar num texto, tomo duas xícaras de café com leite. Penso em amizade e amor, e sobre como os dois às vezes se encontram, em como às vezes se separam, em como um pode destruir o outro, endurecê-lo, matá-lo, ou como podem ser converter na mesma coisa, ficar diferentes, ficar mais um ou mais outro. Ou mesmo se são coisas diferentes. E por que.

Você coloca um monte de água na mão de conchinha e vê ela escorrendo devagar. Mas nunca, nada nada nada, pode jamais apagar essa memória besta, que é a memória de segurar, de verdade, a água - ou o tempo, que é um nome diferente pra mesma coisa, acho.

sábado, 11 de agosto de 2007

vai, pamonha

A quem interessar possa: do Equador a Brasilia, trago uma garrafitcha de vodka de baunilha e a disposicao absoluta de comprar uma mesa de madeira na feirinha da Torre. Fim de semana que vem, em casa, havera festinha para os queridos.
Tragam panelas, tragam bacias. Uma mesa nova e uma garrafa de vodka. Quem se sentir convidado, apareca. Eu e Tufik-Nestor estaremos esperando.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

De Sarajevo e Srebrenica a sexta-feira, de sexta a sabado de noite, de sabado a Lima, de Lima ao Equador - voltam os telefones laranjas, as pessoas andando nas ruas e falando muito alto, meu cachorro branco de bolinhas pretas, minhas plantas e meu tapete de coracao. E entao, apesar do atraso de tres horas do meu voo, eu nao me irrito, definitivamente: compro uma barra de chocolate bem grande, com amendoim, no free shopping; acendo um marlboro; tomo um cafe com leite e um copo de agua com gas no internet cafe; e acho bom este programa absurdo que esta pensando num canal qualquer, embora eu nao entenda nada de espanhol.
Tambem porque da minha casa fui ao aeroporto de Brasilia com a Julia, e tocou Beatles, e life's very short and there´s no time/to flussing and fighting, my friend, e pluft. We can work it out, eles dizem. O Nestor/Tufik esta dormindo com a cara pra fora da janela, a Julia esta falando alguma besteira engracada pra eu parar de pensar que nao vamos chegar a tempo, e depois a gente ri um pouco da musica, e canta, e acha meio bizarro que esta musica toque agora. O Nestor ja foi entregue, a gente vai comer antes de embarcar, e na frente do prato de macarrao comenta mais uma vez a frase do Phillipe Mourin - perdoar e resistir a crueldade do mundo.
Daqui cinco minutos termina meu tempo no internet cafe. Eu acendo mais um cigarro, tomo mais um copo de agua e me preparo pra almocar, enquanto a tv continua com a novela boba, a garconete serve as outras pessoas que estao sentadas, e tudo tudo tudo ja e mais compreensivel e mais terno.