quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
30
Não me dou ao trabalho de entender suas manias: saindo mais cedo da cadeira ao meu lado, olheira de meses, cama desarrumada. Não me dou ao trabalho de entender o seu tempo - porque os segundos passam depressa, e é só. Não me dou ao trabalho da sua dor. Não me dou ao trabalho da minha dor, agora que ela já foi, e demais. Não me dou ao trabalho. Às palavras não ditas, às últimas gotas do copo, aos dias em que um pouquinho mais pra/se, às vozes abafadas no telefone, ao esperar um click, uma mudancinha minúscula, seu olho cruzando o mil e aí mil portas se abrem. Não me dou ao trabalho de querer mais um minuto everchanging. Não me dou ao trabalho do Velvet cantando I'll be your mirror. Não me dou ao trabalho de dias de chuva, nem de uma casa nova no sul, nem de nossos tênis da mesma cor. Não me dou ao trabalho de querer um dia Sophia Coppola. Também não me dou ao trabalho de estar aí. Sou a cama desarrumada, a que sai mais cedo da cadeira ao seu lado, e não tenho olheiras, minutos everchanging, portas se abrindo. Não me dou ao trabalho, e é só. Frio, aterrorizante, vazio, completo, sem sequer se dar ao trabalho de.
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