terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Como comprar um tê em Genebra
-Connecter ton ordinateur à quoi, madame? À l'internet?
- Vou bien savez, monsieur, à l'énergie, à l'electricité, au monde, parce que les choses suisses de connection sont très differentes de celas de les autres pays.
- Je ne vous comprends pas, madame. Vou pouvez répeter?
E assim por diante, três horas em 500 lojas de produtos eletrônicos no shopping. Até descobrir, finalmente, que "tomada" em francês é "prise" - ou quelque chose comme ça - , e que teria sido bom mais fácil se eu fosse um pouco menos arrogantezinha e tivesse trazido um dicionário português-francês para Genebra.
De qualquer forma, aqui tem muito chocolate e vinho barato, e toneladas de queijos brie que custam 3 reais. E todo mundo conhece direitos humanos e fica achando bom minhas chatíssimas discussões sobre genocídio em Ruanda. E amanhã eu vou no Palais de Nations.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
things change, but not quite - II
And those that will judge will say you're
aloof, but you know the truth is a seed.You know what you need is a
conflagration.
Hoje eu fiquei chateada no trabalho e pedi licença pra escrever a dissertação. À tarde caminhei pela UnB com a Jujú, e quando cheguei em casa coloquei i can hear the heart beating as one pra ouvir. Pensei que pra sempre vou sentir alguma coisa estranha quando tiver que pegar a caixinha pra ouvir o disco - foi você quem trouxe, mas estranhamente ele não me faz lembrar qualquer gesto seu, ou de nós dois, no passado ou no futuro que eu vivo imaginando. Ele só apareceu um dia em cima da minha mesa de trabalho, como algo que você esqueceu por aí, sem as bobagens habituais que talvez você nem saiba que são tão importantes pra mim - 'eu sei que você ama esse disco', uma dedicatória, papel de presente, fitinha vermelha de cetim que a gente tem que desatar com cuidado mas morrendo de vontade, sem conseguir piscar e perguntando o que tem lá dentro do embrulho. É, ele não veio pra ser um presente. Então, enquanto penso nisso, penso também que as coisas são perfeitamente assim mesmo, sem qualquer "se", a não ser aqueles que eu insisto ainda em criar dentro de mim. E que mesmo que você me chamasse baixinho e com cuidado hoje antes do almoço eu não iria querer que você me visse chorando. E que, mesmo querendo tanto, eu não consegui acreditar que 2008 poderia ser diferente com você quando acordei do seu lado no primeiro dia do ano.
Agora você está tão perto, mas em outro país. Eu não tenho fotos suas. Nem nossas - engraçado, nós nos prometemos tantas vezes ser donos do tempo. Agora, quando te olho com cuidado, disfarçando pra ninguém notar, não consigo mais reconhecer o seu rosto direito: eu, que me redesenhava em cada parte de você quando a gente estava longe. Agora o seu cheiro, eu percebi sem querer que parei de sentir desde que você voltou, e mesmo nos corredores as pessoas que usam o mesmo perfume que o seu não passam mais. Virou cheiro de lugar nenhum, de ausência; um desses cheiros que de tão antigos ficam esquecidos na memória, e que sem querer anos depois a gente lembra quando está assim distraída, esperando na fila do cinema ou correndo pra comprar um café numa cidade desconhecida. Um desses cheiros que não falam mais do show da björk que eu assisti sem você, emocionada no meio da multidão, com o coração apertado; nem do café com leite que a gente nunca tomou, naquela sexta em que você podia ter ligado, mas em que você previsivelmente não apareceu. Nem do frio que a gente podia ter consertado juntos, porque já está chegando perto da primavera. Vai parando a chuva, e enquanto não vêm o calor eu corro rapidinho e pego um cachecol velho pra me esquentar, esperando sem querer, mas nem tanto, pra saber se não é nessa noite em que a conflagration de que fala o andrew bird bate aqui na minha janela aberta e senta no sofá, no pé da minha cama, embaixo da mesa, do meu lado, bem perto.