Eu gosto de estudar à noite, quando não existe mais ninguém acordado. Passar a madrugada, até de manhã, escrevendo. Eu ligo o computador, uma luz bem fraca, deixo o Tufik dormir embaixo da escrivaninha, e tomo uma xícara de café com leite quentinha. As manhãs foram feitas pra dormir.
Eu gosto mais de tropicália do que de bossa-nova, e eu prefiro o Caetano ao Chico. Apesar disso, gosto mais dos cachorros do que dos gatos, muito embora tenha vontade de ter os dois em casa.
Eu amo os Beatles; tenho amor, mas sinto mágoa dos Rolling Stones. Eu adoro a Yoko.
Eu queria ter cabelo comprido, mas meu cabelo é curto e não cresce nunca.
Gosto mais de vestido do que de calças jeans. Mais de café do que de chá. Mais de salgado do que de doce. Prefiro vinho, depois cerveja. Não me dou bem com os destilados, de modo geral, muito embora tenha uma queda recente por whisky.
Gosto de amigos em casa, mas depois de um tempo me dá uma preguiça. Eu gosto de viajar pra longe, muito longe, mas depois de um tempo me dá preguiça. Na verdade eu tenho preguiça quando dura mais do que devia.
Eu ando rápido e dificilmente vejo alguma pessoa na rua. Acho bom quando tem muitos carros passando. Acho bom quando a cidade está em obras e é barulhenta (eu nem noto, e é gostoso). Acho bom quando tudo está cheio e as pessoas ficam falando muito, a não ser no supermercado. Eu gosto de cidades grandes e bagunçadas. Eu gosto de ficar perto do mar.
O silêncio é bom quando chega de noite. A melhor hora é quando o dia vai virando noite, e não dá pra saber quando começa um e quando termina o outro. A lua é mais bonita do que o sol. As estrelas são as mais lindas de todas.
Eu gosto de nadar. Eu gosto do barulho da água e da minha respiração. Eu gosto de ouvir a respiração dos outros. Eu gosto de ouvir os outros contando histórias. Eu gosto de saber qual a cor preferida dos meus amigos. Eu gosto da intimidade, mas acho difícil encontrar pessoas para reparti-la. Eu tenho vergonha dos outros ouvirem a minha respiração, porque eu acho que é barulhenta. Eu também tenho vergonha do meu pé, feio e cascudo.
Eu só tenho bolsas grandes. Minhas bolsas são pesadas, com jornal e livros que eu carrego pra cima e pra baixo. Eu gosto de agendas grandes, também, pra escrever tudo que eu tenho que fazer, todos os dias, pra não esquecer de nada, de nenhum compromisso, de nenhum telefone, de nenhum aniversário, de nenhuma impressão que eu tenha que despachar com meu chefe, de nenhuma memória, de nada que possa ter acontecido no dia de hoje, e se eu pudesse eu teria uma agenda que contaria o que vai acontecer daqui até o final do ano, daqui a três meses, só porque eu tenho preguiça desta coisa de escrever tudo na agenda, todo dia, tanto quanto eu tenho preguiça deste acaso demorado. Na verdade eu tenho preguiça quando dura mais do que devia.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
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