quinta-feira, 26 de julho de 2007

ui ui ui - la vie, elle n'est pas facile

E então, notícias sobre a Bósnia. Onde estão?
Nem eu sei dizer. Elas são muitas e muito poucas. Porque é estranho passar duas semanas fora, mil coisas, Sarajevo tão linda e espiritualizada, Sarajevo com seus buracos de bala e carros antigos, análises múltiplas de quaisquer aspectos sobre genocídio, e depois voltar pra casa, pro trabalho todo dia da repartição, pro telefone laranja, pros amigos que ficaram por aqui, pros amores antigos e atuais, pro meu chuveiro quentinho e pros pacotes que ainda não desfiz desde a mudança.
Então é como se eu não estivesse nem triste, nem feliz, nem qualquer coisa. É como se nada. É como um nada bem grande, enorme, de quinze patas; é como o "sem-face" do desenho da Chihiro, que ninguém nunca soube dizer o que é, se um Deus ou um monstro, porque ele engole tudo com dentões feios e depois estende a mão carinhosamente.
Aí eu corro corro corro, na esteira da academia e na vida; corro corro corro pra tomar banho na hora certa, e ir pro trabalho, e depois corro pra dar ração pro Nestor e levar ele pra fazer xixi. E quando eu não tenho nada pra fazer aqui em casa eu invento uma comida bem complicada pra cozinhar, porque aí eu fico concentrada em saber se o molho vai coalhar ou não, se manjericão combina com alecrim, se vai engordar muito ou se qualquer coisa, tanto que seja ordinária, certa, pequena e sobretudo compreensível.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

love's a razor blade

Provavelmente porque cada dia dói tanto, e é tão duramente triste que eu sinto como se minhas unhas estivessem em estilhaços toda noite;
porque sempre é como se o sol se partisse em mil pedaços na sua força de meio-dia à seis da tarde;
porque as horas cotidianas caem devagar, em conta- gotas;
também porque o amor e a ternura são estes fatos tão absolutos e inegáveis (pra mim) da condição humana;
e, finalmente, porque nada, nada é tão leve pra mim como eu, eventualmente, gostaria de imaginar que seria pro meu filho (e porque talvez, por esta simples razão, desde muito pequena, eu tenha absoluto repúdio à idéia de ser mãe);

: eu simplesmente me curvo à idéia de que love's a razor blade.

E durmo.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

la dolce vita

Um novo visto.Uma nova passagem para a Bosnia,agora no domingo. Um recepcionista lindo do hotel que me leva pra jantar, me faz rir e me da carona numa lambreta. A praça del Duomo.
La vita è bella a Milano.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

deportada de Sarajevo e esperando

Primeiro dia de viagem: deportada de Sarajevo, devidamente escoltada pela policia ate Milao no primeiro voo da Alitalia, aos gritos, quase enfiada num aviao de volta para o Brasil (falar italiano salva qualquer um: a policia de Milao carimbou meu passaporte na Italia depois de entender o que tinha acontecido), ha 25 horas sem dormir, chorando e chutando as coisas na policia do aeroporto. Perderam minha bagagem no caminho; tive que comprar calcinha, soutien, um desodorante e um vestido barato pra vestir. Ha 2 horas, finalmente, consegui encontrar um hotel baratinho e uma lojinha que vende falafel pra bater o rango merecidissmo.
Liguei pra Universidade de Sarajevo e para a organizacao que montou o evento. Eles queriam morrer, claro. Eu tambem. De acordo com as pessoas la da Universidade, o que rolou foi uma desorganizacao no timing do envio dos meus documentos para o Ministerio de Relacoes Exteriores da Bosnia. Dentro de 2 dias, se tudo der certo, volto para Sarajevo (com visto, claro, mas tenho medo, logico).
Antes ate mesmo saber que seria deportada, quando o aviao pequenininho sobrevoava Sarajevo, confesso que tive uma sensacao horrivel. Porque o voo que sai de Milao voa baixo; voce atravessa a Eslovenia e a paisagem e a mais linda que pode existir - um monte de rochas e umas casas fofas no meio delas. Mas em cima de Sarajevo a paisagem e desoladora: uma grande roca, com casas quadradinhas a la comunismo, uma coisa meio bucolica, assim, e isso e legal. Mas todas as casas - e la de cima voce ve - estao encravadas com milhares de buracos de balas. Nao tinha entendido quando vi la de cima, mas quando o aviao foi chegando mais perto entendi.
E estranho. E um lugar minusculo, com cara de interior do Parana. E todas as casas assim.
After all, estou feliz em Milao e amanha vou dar um volta pra conhecer a cidade, passear nos museus e nas igrejas, e tal. Gosto daqui, gosto das cortinas verdes do hotel, mas comecei a descobrir que e uma alegria grande morar no Brasil.