quarta-feira, 16 de março de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
assim é 2011
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
30
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
para um desconhecido qualquer
Te encontrei dentro do livro do Edwin Morgan, what fear was it that made the wind sound like fire, e dobrei a pontinha da página pra depois. Porque o depois vem quando eu menos espero - olha, nem lembrava, mas eu achava esse tão bonito... O que eu sempre gostei gostei em você foram as surpresas.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Bergman e eu
Faço isso há tempos; lá se vão sete anos. Mas até hoje eu realmente não sei o que sinto pelo Bergman. Não sei qual meu filme preferido do Bergman. Na minha falta de conhecimentos cinematográficos, nunca consegui ficar magnetizada com nada do Bergman - ele não tem aquela piração perfeccionista do Kubrik, nem aquela fotografia maravilhosa que o Christopher Doyle faz nas coisas do Wong Kar-Wai, nem o charme cafajeste do Fellini, nem o brilhantismo do Godard, nem a cafonice podrona-maravilha do Almodovar. Nope. Nada.
Gosto do Bergman porque ele é simples. Ele não tem nada de difícil. Nada de virtuoso, fenomenal. Acho até que ele devia ser um sueco feio de meias e chinelo. Não existe catarse, não existem grandes projetos, não existe final - nem triste, nem feliz. Gosto do Bergman, acho, porque ele é cru como uma porção morna da comida que a gente come todo dia.
É raro, mas de vez em quando eu deito na cama e choro, sempre de noite, mas por nada. Por nada mesmo, no sentido típico, pela solidão inexorável que nunca nunca nunca vai ter remédio, por ter feito da vida isso e aquilo, por não ter escapatória para além de acordar no outro dia e ter que escovar o dente, conversar, fazer o café, tédio. Às vezes eu choro, ou durmo demais, ou falo demais, ou fico quieta porque pra lá das minhas plantas e afazeres diários não existe muita coisa, mesmo. Uma caixa cheia de memórias, narrativas desconjuntadas e esperanças mais ou menos obscuras, pronto, é só isso que eu consigo ser.
O Bergman resolveu parar na frente desse vazio e ficar olhando, como se fosse o filho dele brincando no parquinho. A impressão que eu tenho é que ele abraçou isso e nunca teve pressa pra resolver. Eu gosto do Bergman, acho, porque ele me faz sentir acompanhada pelo meu nada próprio e até a fazer festinha pra ele. Eu adorei o último filme que assisti do Bergman, no começo da semana, porque a personagem principal chamava Marianne, como eu, e a atriz era a Liv Ullman. Mas ficou muito triste depois da terceira hora e eu resolvi assistir o resto no semestre que vem.
Eu gosto do Bergman do mesmo jeito que eu gosto de deitar no chão e ficar de olho fechado, sem ninguém por perto, sem esperar. Ali.
sábado, 24 de julho de 2010
in love with Derrida
"chaque fois que le pardon est effectivement exercé, il semble supposer quelque pouvoir souverain. (...) Ce dont je rêve, ce que j'essaie de penser comme la 'pureté' d'un pardon digne de ce nom, ce serait un pardon sans pouvoir: inconditionnel mais sans souveiraineté."
caderno de anotação
De tudo, o mais difícil agora é contar a história.
No começo, não. No começo o pior eram os domingos à tarde, os sábados à noite, a casa vazia, o telefone sem tocar. Era lembrar de quando você lia jornal de luz apagada de manhã cedinho, e de não entender, de verdade, de verdade, como seria possível viver sem ter isso todo dia.
No começo eu deitava na pontinha da cama, deixando espaço pra você, e pensava que talvez uma hora ou outra você fosse dormir ali de novo. Eu sentia sua ausência como se ela fosse uma pessoa. No começo, e um pouco depois, eu quase conseguia ouvir você me dizendo isso ou aquilo; eu tentava adivinhar se você tinha emagrecido, e bem lá dentro eu achava que sabia que você devia pensar em mim de vez em quando, como se eu fosse tão especial que.
No começo havia o que era só nosso. Os nossos segredos, aquele programa que só a gente fazia no domingo, aqueles discos que eu comprei e ouvi com você pela primeira vez. No começo, eu sentia a distância como um detalhe besta; e no começo, apesar de eu ter partido, e você também, você era em mim e eu era em você. Na dedicatória do livro que eu entendia, nas memórias que só faziam sentido na primeira pessoa do plural.
No começo era a falta, mas existiam nossos lugares sagrados. No começo, era o não você, e no começo era o não saber, era o não estar que deixavam os dias longos e as noites mas compridas ainda, mas era só. De alguma maneira você estava. Sempre.
Depois do começo, o que eu perdi primeiro foi a sua voz. Depois foi o seu cheiro. Depois, seu jeito de andar, que eu fui esquecendo, até não lembrar mais. E daí vieram as notícias sobre você, aquelas que eu esperava te ouvir contando, que eram nossas, e que eu fui sabendo por outros, muito, muito tempo depois de terem acontecido, e foi como se eu perdesse o seu rosto. E com as notícias dadas pelo não-você, lembrei de todas as coisas que você não tinha me dito. Lembrei do seu jeito de não telefonar, e de tudo que você tinha me falado na hora errada.
Eu me afastei, e depois foi o não te reconhecer. Não entender porque você me tratava como estranha, nenhuma initimidade, conversa genérica de msn. Não entender porque você fingia que não tinha me visto naquela festa. Não entender como de uma hora pra outra plim, todas aquelas coisas que a gente conversava tinham desaparecido, você não tinha mais nada a ver com aqueles problemas, eu, hein?, tudo novo, agora a vida mudou. Cena de videoclipe: você ali no Alaska, corta, o cenário agora é um quarto de hotel, e depois um bote, uma corrida de kart e e e.
De tudo, o mais difícil agora é contar a história. Ainda tenho saudade, mas não sei direito se é de você. Não sei mais direito do quê. Espio nossos segredos, e fico confusa, acho que eles eram só meus, primeira pessoa do singular, isso sim, e todos esses discos, livros, fotos, memórias, tudo, tudo está fora do lugar. Como se tivessem entrado de sapato na casa de um japonês velhinho, como a bomba que o sérvios jogaram bem em cima da biblioteca muçulmana no centro de Sarajevo, como se profanassem todos os lugares intocados e inocentes do mundo, como sacolinha descartável, como pagar a conta do restaurante, como me dá dois, cinquenta reais, ok, opa, desculpa, acabou, volta outro dia, hoje não tem, como um delírio, uma febre, uma coisa que aconteceu but not quite, um caderno de anotações contando a vida de uma outra pessoa.